(Frasquilho sai da TAP, não sem antes se congratular a si mesmo pelo inestimável trabalho que desenvolveu a despedir mais de dois milhares de trabalhadores da TAP, enquanto se desviam voos para a PGA. Daqui a uns tempos estaremos a discutir em ambiente de café o excesso de trabalhadores nesta companhia sem que ninguém se questione verdadeiramente sobre o que está aqui em causa.

Há pessoas que fazem o seu percurso a construir algo e outros há que deixam orgulhosamente num rasto de destruição. A culpa não é apenas de Frasquilho. Mas, enquanto uns receberam milhões que nunca lá deixaram e outros saem de fininho, procurando fingir que nunca ali estiveram, como Lacerda, Frasquilho decidiu gabar-se. E, à semelhança de outros, a vaidade continua a ser um pecado capital.)

Assisto impávida a várias campanhas publicitárias, patrocinadas pelo Poder Político, a tentar justificar o que não tem justificação possível. Os despedimentos em massa, apelidados de alegadas medidas voluntárias, estão em marcha, uns em empresas deficitárias, outros nas que pagaram dividendos, com o aplauso de incautos cidadãos que ainda não perceberam que a factura dos mesmos e, já agora, das prestações de desemprego lhes é, também, dirigida.

São raros os que questionam a bondade destas decisões e mais raros os que se recordam o percurso dos autores. É que, pese embora se anunciem como servidores da causa pública, a maioria dos ocupantes de lugares cimeiros nas últimas décadas apenas se serviram a eles mesmos, com uma factura demasiado alta para os parcos resultados.

Mais do que nunca, importa reter a citação: “o Governo não há-de cair porque não é um edifício. Há-de sair com benzina, porque, no que realmente importa, é uma nódoa”.

O problema é que esta nódoa alastra por via das nomeações, das cunhas, das repescagens, dos acordozinhos que não beneficiam alguém, excepto os seus intervenientes. Alastra também para os outros partidos políticos, reféns das suas próprias guerrilhas internas por um tacho qualquer. Alastra, por último, para cada um de nós, mais preocupado com a meteorologia, com os jantares e com o seu próprio quintal do que o que venha a ser o nosso futuro.

De facto, o português típico tende a transformar tudo numa gigante anedota mas a única revolta que conhece é a de fazer uns post nas redes sociais.

Daqui a uns anos, estaremos como hoje, escandalizados com outros casos de corrupção, entre as cheias e o combate aos fogos, consoante a estação. Nada mudará porque, na realidade, ninguém se dá ao trabalho de tentar fazer algo diferente e, acima de tudo, raros são os casos em que nos mexemos para ajudar quem, de facto, necessita.

Se antes o nosso slogan era Fátima, Futebol e Fado, agora passou a ser pagar facturas, cujo motivo não sabemos nem queremos saber. É mais cómodo mas não mais eficaz.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.