“Isabel dos Santos recentemente mudou a sua residência oficial para o Dubai, motivada pelo seu desejo de manter os ativos longe das mãos das autoridades angolanas, e não meteu o pé em Angola desde 2018”, lembrou Nathan Hayes em entrevista à Lusa.
“O Governo disse que ia tentar que ela fosse a julgamento em Luanda, mas vai ser difícil; ela tem cidadania russa, o que pode impedir a extradição para Angola”, disse o analista, quando questionado sobre se acredita ser possível julgar a empresária na capital angolana.
Questionado sobre se o processo aberto pela Procuradoria-Geral da República de Angola contra Isabel dos Santos, constituindo-a arguida, ajuda a convencer os investidores sobre as mudanças em Angola no ambiente empresarial, Nathan Hayes respondeu que as reformas vão no bom sentido.
“Os investidores internacionais vão provavelmente ver os esforços em curso, particularmente na separação da Sonangol e atribuição de licenças de exploração de petróleo, como um passo na direção certa para garantir o crescimento do setor privado e promover a diversificação económica”, afirmou.
O problema, acrescentou, é que “muito pouco melhorou desde que José Eduardo dos Santos deixou o poder”, a começar na vertente económica, “com o país em recessão há quatro anos, e a maioria da atividade económica no país a continuar focada no setor petrolífero, com poucos impactos para a maior parte da população”.
Além disso, acrescentou, apesar de a família dos Santos ter saído do poder, “continua a haver muitos dirigentes esquivos no poder, já que a elite governante é, na verdade, a militar, e o impulso reformista de João Lourenço tem de ser cuidadoso para não agir demasiado depressa contra estes interesses enraizados”.
Assim, concluiu, “o ambiente de negócios continua muito desafiante, e ainda há muito a fazer antes de Angola ser um destino atrativo para investimentos, mas o Governo de João Lourenço está a dar passos na direção certa”.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de ‘Luanda Leaks’, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
Isabel dos Santos disse estar a ser vítima de um ataque político e sustentou que as alegações feitas contra si são “completamente infundadas”, prometendo recorrer à justiça.
Na quarta-feira, a Procuradoria-Geral da República angolana anunciou que Isabel dos Santos foi constituída arguida num processo em que é acusada de má gestão e desvio de fundos da companhia petrolífera estatal Sonangol e que visa também portugueses alegadamente facilitadores dos negócios da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
De acordo com a investigação do consórcio, do qual fazem parte o Expresso e a SIC, Isabel dos Santos terá montado um esquema de ocultação que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para uma empresa sediada no Dubai e que tinha como única acionista declarada Paula Oliveira.
A investigação revela ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no EuroBic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera angolana. O EuroBic já anunciou que a empresária vai abandonar a estrutura acionista, o mesmo acontecendo na Efacec e já depois de os três membros não executivos do conselho de administração da NOS ligados a Isabel dos Santos terem anunciado a sua saída da operadora de telecomunicações.
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