Não sabemos. Eu vi as notícias que dizem que Portugal ganhou vários “Óscares do Turismo”, mas, na verdade, aquilo que aconteceu em São Petersburgo no passado Sábado foi a gala europeia dos World Travel Awards. Ou seja, Palmas de Ouro e não Óscares. E nós ficámos com vinte e três delas. Eu sei que se falaram de trinta e sete, mas esse número inclui os catorze prémios de índole nacional, onde não estávamos, portanto, a concorrer com outros países.
Estas clarificações em nada desmerecem o resultado da noite de 30 de Setembro: Portugal foi o vencedor do Festival de Cannes do Turismo, conquistando, nomeadamente, o galardão para melhor destino europeu (algo que Lisboa já havia conseguido em 2009, mas, na altura, o sector não era aquele-que-vai-salvar-a-economia-e-destruir-as-cidades).
Outros nomeados nesta categoria incluíam, por exemplo, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra, Itália, Suíça e Áustria, destinos que o Fórum Económico Mundial considera mais competitivos que o português. Ainda em termos de destino, o Algarve foi eleito o melhor de praia, como sucede desde 2012, apenas interrompido em 2014; a Madeira continua a ser escolhida como o melhor insular; Lisboa perdeu o título do melhor para cruzeiros, embora mantenha o melhor porto, e continua a não ganhar o prémio city break.
Na hotelaria, as treze distinções deram para todos os segmentos, dos negócios ao romance, do “tudo incluído” ao design. Geograficamente, não deram para ir além das três regiões que concentram quase três quartos das dormidas: Algarve, Lisboa e Madeira. Fora delas, só os Passadiços do Paiva e a empresa DouroAzul, ambos na região Norte, foram agraciados. Ora, as três regiões mais turísticas são também as que têm um maior rendimento per capita e eu suspeito que existe aqui causalidade, não casualidade.
Era, pois, importante que o turismo fosse capaz de contribuir para a redução das assimetrias regionais, em vez de mimetizar a distribuição das outras actividades económicas. Num país que, em pouco mais de 92 mil km2, tem tamanha diversidade de paisagem, de gastronomia, de costumes, esse parece um desafio fácil de vencer. Aliás, é essa variedade condensada num pequeno território que nos dá uma vantagem face aos nossos concorrentes directos.
Embora com menos divulgação mediática, Portugal esteve, na Segunda-feira, na OCDE, a apresentar a sua estratégia de turismo, que assenta em cinco eixos, sendo um deles a valorização do território. Folgo em ver esta preocupação com a desconcentração no espaço, que, ao introduzir e promover novos produtos, contribuirá, igualmente, para a diminuição da sazonalidade.
Já lá vai o tempo do “Sunny Portugal”, primeiro folheto turístico oficial, onde o clima era apresentado como factor de diferenciação. Estávamos em 1913, dois anos após a criação da organização oficial do turismo portuguesa, que foi a terceira no mundo. Tanta experiência acumulada valeu-lhe o troféu em São Petersburgo, pelo quarto ano consecutivo. É o reconhecimento de um bom trabalho. A Primavera Árabe primeiro, depois a insegurança em vários pontos da Europa deram, sem dúvida, o seu contributo, mas Portugal aumentou a sua quota no turismo europeu, o que significa que boa parte do nosso sucesso ficou a dever-se a uma estratégia de promoção acertada, que percebeu as novas tendências.
Está, pois, de parabéns o Turismo de Portugal. E estão de parabéns todos os que operam no sector, desde o pessoal “invisível” retratado no livro da Inês Brasão aos hoteleiros, passando por quem, por terra, ar e água, transporta quem nos visita. Não sei se dia 10 de Dezembro, no Vietname, vão juntar Óscares às Palmas de Ouro, mas merecem-nas.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.
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