A quinze dias da reunião do Open Market Committee da Fed a probabilidade da taxa de juro não ser alterada é de 99%. Isto apesar das boas notícias em termos de situação económica: em setembro foram criados 336 mil empregos, o dobro do esperado, e a taxa de desemprego permaneceu em 3,8% apenas porque a taxa de participação é elevada – a 62,8% é o valor mais alto desde fevereiro de 2020.

O cenário de soft landing é, portanto, comummente assente, apesar dos acontecimentos da última semana e meia. O mercado de trabalho não dá sinais de arrefecer, o que corta a margem de manobra da Reserva Federal dos EUA (Fed) para iniciar a descida dos juros. Mas nem tudo que reluz é ouro.

A política económica americana está descoordenada: enquanto a política fiscal é francamente expansionista, a política monetária é fortemente restritiva. Temos ao mesmo tempo um défice orçamental insustentável e as taxas de juro mais elevadas de muitas décadas – em três anos, a taxa das bonds a 10 anos passou de 0,51% para 4,63%.

E o que torna a coisa mais sui generis é o défice orçamental ser, num momento de pleno emprego, 1,5 milhões de milhões de dólares em onze meses deste ano orçamental, mais 600 milhões que há um ano, e isto quando o Supremo Tribunal vetou o perdão de Biden da dívida estudantil, que implicaria mais 400 mil milhões de despesa pública.

Uma parte da história vem da perda de receitas fiscais, sobretudo sobre os ganhos de capital: em 2022 o S&P 500 caiu quase 20%. A receita cai cerca de 10%, quando a despesa aumenta mais de 10%, em programas de apoio como a Medicare e a Medicaid, na segurança social (11%, grande parte por ajustamento à inflação de pensões e outros benefícios) e nos juros da dívida. No passado o défice só atingia 5% do PIB quando o desemprego ultrapassava 7%, agora será perto de 6% com um desemprego abaixo dos 4%. Fica a questão de os EUA terem músculo orçamental para apoiar Ucrânia, Israel, Taiwan e Coreia do Sul.

Não há, portanto, condições para começar o ajustamento orçamental a curto prazo, além dos dois prováveis candidatos presidenciais serem os dois maiores criadores de dívida da História do País. As taxas de juro altas estão para durar, quando a China estará a reduzir o stock de treasuries americanas e o Japão, o maior detentor, a comprar menos, e quando as colocações poderão aumentar quase 20% em 2024.

Este é o grande desafio da política económica americana dos próximos anos: gerir a sustentabilidade financeira do país num contexto internacional ainda mais desequilibrado.