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André Silva destaca “derrota atrás de derrota” da tauromaquia e diz que esta faz falta à cultura portuguesa como “um acordeão a um funeral”

O líder do PAN destacou também o “salto jurídico-filosófico ao deixar de qualificar os animais como coisas”, e salientou o trabalho realizado pelo partido no aprofundamento da transparência e de combate à corrupção.
  • André Silva, Porta-voz e deputado do PAN à Assembleia da República
5 Junho 2021, 12h47

A tauromaquia foi um dos focos de André Silva, na abertura do Congresso do PAN, uma reunião do partido que assinala também o seu adeus à liderança do PAN. O líder partidário elencou os avanços que foram feitos relativamente à tauromaquia no país, graças à intervenção do PAN, e disse mesmo que a tauromaquia faz falta ao país como um acordeão a um funeral.

“Continuam a dizer que a tauromaquia é parte da herança cultural do nosso país. Sim, é verdade. Assim como a escravatura, a Inquisição ou a caça à baleia, legados culturais que não nos merecem qualquer saudosismo. A tauromaquia faz falta à cultura portuguesa como um acordeão a um funeral”, disse André Silva.

O líder partidário, aproveitou o facto do Congresso do PAN, se realizar em Tomar, no distrito de Santarém, província do Ribatejo, “o coração das relíquias da tauromaquia”, para salientar as derrotas atrás de derrotas que o setor tem tido nos últimos anos.

“Nos últimos seis anos a garraiada académica do Porto acabou, a de Coimbra terminou, a de Setúbal deixou de se fazer, e a de Évora já não se faz. Os bilhetes das corridas são hoje tributados com IVA a 23%, há seis anos eram só borlas fiscais. Nos últimos anos a tauromaquia perdeu vertiginosamente espectadores, a Praça de Touros de Albufeira encerrou e a Praça da Póvoa de Varzim foi demolida. E muito se deve à ação do PAN, ao vosso trabalho. O sector tauromáquico sabe que não adianta falar grosso ou fazer ameaças, que no PAN não temos medo deles, que no PAN pegamos a tauromaquia de caras”, afirmou.

“Há seis anos zombavam e sentiam-se intocáveis, hoje em dia fazem abaixo assinados, petições e espante-se, ações de activismo no Campo Pequeno em que até se algemam aos portões. Não conseguem juntar mais que 20 pessoas numa manifestação: 7 cavaleiros, 6 matadores, 3 bandarilheiros, 2 emboladores, o Chicão e o Ventura”, reforçou André Silva.

O líder do PAN salientou também o “salto jurídico-filosófico ao deixar de qualificar os animais como coisas”, sublinhando que perante a lei os animais “têm que ser tratados como seres vivos dotados de sensibilidade e objeto de proteção jurídica em virtude da sua natureza, algo que fez com que Portugal fosse colocado como um dos mais avançados em matéria de direitos dos animais e da sua proteção – pelo menos na letra”.

André Silva salienta que atualmente é proibido abater animais como forma de controlo populacional, mesmo
“contra a vontade” da direção da Associação dos Médicos Veterinários dos Municípios.

O líder do PAN abordou ainda o tema ambiente, dizendo que há seis anos “o ambiente vivia no dilema
entre ser uma nota de rodapé nos programas eleitorais ou ser um branqueador de ideologias totalitárias e ultrapassadas”, para graças ao PAN ser hoje “um campo político autónomo, é um tema incontornável de qualquer debate político minimamente sério”.

André Silva acusou o ministro do Ambiente de ausência de “políticas públicas corajosas” por parte do Ministro do Ambiente, reforçando que o PAN “não cede a interesses instalados”,

O aprofundamento da transparência e de combate à corrupção foi outro tema abordado por André Silva, referindo que foi graças à “determinação e desassombro” do PAN que hoje se debatem temas ligadas a estas áreas, e que se deve à “obstinação” do PAN existir um portal da transparência para a gestão dos fundos europeus, “haver transparência nos negócios do hidrogénio verde bem como o reforço dos meios no âmbito da prevenção e combate à corrupção e à criminalidade económico-financeira”.

André Silva afirmou que perante “um PSD apático e uma esquerda colaboracionista, foi o PAN quem pôs a nu a falta
de ética e os riscos que estavam associados ao salto directo de Centeno para o Banco de Portugal, foi o PAN quem pôs o pé na porta giratória que existia entre a banca comercial e o Conselho de Administração do Banco de Portugal – e que tanto custou ao país nos últimos anos –, conseguindo consagrar, pela primeira vez em lei, um período de nojo que impede estes saltos diretos de ética duvidosa”.

O líder do PAN reforçou que o partido não vai ficar por aqui, e que em breve, graças ao partido, será aprovada a
a regulação da atividade do lobbying, a criminalização do enriquecimento injustificado dos ex-políticos ou uma legislação de proteção dos denunciantes.

“Onde estão as vozes que diziam que só nos preocupávamos com os animais? Estão silenciadas porque a nossa obra fala mais alto”, disse André Silva.

André Silva destacou também as autárquicas de 2017 onde o PAN “alcançou excelentes resultados” e conseguiu ter representação em Assembleias Municipais de concelhos que abarcam cerca de metade da população do país; a eleição em 2019 de um eurodeputado e a eleição de um grupo parlamentar, “quadruplicando a nossa força”, e em 2020 e eleição de Pedro Neves para a Assembleia Legislativa Regional dos Açores.

André Silva referiu ainda que é um convicto defensor do princípio da limitação de mandatos, reforçando que entende que numa democracia saudável as pessoas “não devem eternizar-se nos cargos políticos”, devendo dar
oportunidade a outras pessoas.

“É principalmente em nome desse princípio que tomei a decisão que se consuma com o fim desta minha intervenção”, acrescentou.

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