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André Ventura, professor universitário: “Serei, provavelmente, candidato a presidente da Câmara Municipal de Sintra”

André Ventura é escritor, professor universitário, cronista do jornal OJE, Correio da Manhã e Vida Económica e comentador da CMTV e da BTV. O jovem multifacetado é militante do PSD, quer entrar pela “porta grande” nas lides políticas e antecipa uma provável candidatura à edilidade de Sintra onde, por regra, só entram nomes sonantes. Como […]
29 Junho 2015, 18h25

André Ventura é escritor, professor universitário, cronista do jornal OJE, Correio da Manhã e Vida Económica e comentador da CMTV e da BTV. O jovem multifacetado é militante do PSD, quer entrar pela “porta grande” nas lides políticas e antecipa uma provável candidatura à edilidade de Sintra onde, por regra, só entram nomes sonantes.

Como vê a situação política atual?

Com muita apreensão. Os dados estão em cima da mesa, mas os cenários não são nada animadores. A coligação PSD/CDS está muito próxima dos números do Partido Socialista e o presidente em funções já disse que não dará posse a um governo minoritário. Podemos ter uma situação politica caótica ou de acordos forçados que, a médio prazo, acabam por se revelar mais instáveis do que um governo minoritário. Cavaco vai ser um player fundamental nos próximos tempos, curiosamente nos últimos meses do seu mandato.

Tem algumas ligações políticas? Imagina-se a fazer alguma coisa no panorama político português?

Confesso que me sinto feliz na Universidade e na comunicação social. Comunicar é aquilo em que me sinto à vontade e onde me sinto verdadeiramente reconhecido. Na verdade, não imaginava, hoje em dia, a minha vida sem os comentários televisivos semanais na CMTV ou a participação em jornais como o Correio da Manhã, o OJE ou o Vida Económica. Devo admitir que sou militante do PSD, já tendo feito parte de vários órgãos locais e distritais, o que nunca toldou o condicionou o meu juízo analítico sobre a realidade portuguesa. Sinto-me um comentador completamente independente.

Mas imagina-se a ter algum papel político relevante, para lá do comentário na televisão e nos jornais?

Imagino, sobretudo a nível local. Sou um homem atento aos pequenos problemas e com uma grande intervenção cívica no meu concelho, que é Sintra. No último ano, um conjunto muito diverso de entidades e pessoas relacionadas com movimentos cívicos e políticos em Sintra tem-me desafiado para uma candidatura à Câmara Municipal de Sintra. Primeiro, recusei. Depois, hesitei. Por fim, cada vez me convenço mais que é preciso uma nova geração de poder nas autarquias – sobretudo nas de maior dimensão, como Sintra, Lisboa, Porto, Gaia, etc. – e, por isso, é provável que aceite. Serei, provavelmente, candidato a presidente da Câmara Municipal de Sintra.

O que o liga a Sintra?

Tudo. Nasci em Sintra. Vivi em Sintra até ir para a Faculdade de Direito e, mesmo depois de me tornar Professor, continuei a residir em Sintra. É a minha terra, a única que verdadeiramente em apaixona e cujos problemas – de segurança, de estabilidade, de qualidade de vida – verdadeiramente me preocupam. Sou um sintrense de gema. Quem me conhece sabe que amo Sintra com todo o meu coração.

Espera o apoio do PSD nessa candidatura?

Como disse há pouco, esta é uma decisão que nasce dos movimentos cívicos, culturais e comerciais do concelho de Sintra. Nasce das pessoas que confiam em mim e me desafiaram para este projeto. Se se concretizar, com certeza que espero o apoio do PSD, o meu partido desde que me reconheço em termos de cultura politica.

Sintra costuma ter candidatos de peso partidário. Porque se justificaria a escolha de André Ventura?

De facto, o PSD poderia – e poderá – apoiar ou propor militantes com muito mais peso partidário do que eu. Não é uma decisão que me compete a mim, mas penso que inovar e apostar em programas alternativos é também um desígnio dos grandes partidos, conforme podemos ver por toda a Europa.
Ainda faltam mais de dois anos para as autárquicas. Mas, se vencer, deixa a vida académica? E o resto?

Trata-se de uma necessidade, em nome de um bem maior. Servir as pessoas e tomar decisões em prol da comunidade é um dever de todos os cidadãos empenhados na causa pública. E eu, desde muito cedo, sou um cidadão empenhado na causa pública. Não deixarei, naturalmente, a presença na comunicação social: penso que estar em contacto com o público é um dever de todos os que participam na esfera pública. Os jornais e a televisão são, para mim, mais uma dimensão fundamental de serviço público.

Em relação às Universidade em que leciono – na Universidade Autónoma e na Universidade Nova de Lisboa – teria de as deixar caso ganhasse. Mas seria apenas, estou convencido, um até já…

Porquê? Paixão pela política?

Conforme disse há pouco, tenho duas grandes paixões na vida: a comunicação e a causa pública. Tudo o que for do domínio das grandes decisões da comunidade exerce sobre mim um enorme fascínio. Não pelo poder inerente, mas pela capacidade de provocar mudanças efetivas na vida das pessoas, transformar e melhorar a sua qualidade de vida das pessoas. O professor Fernando Seara – de quem sou amigo – ensinou-me que na vida há algo verdadeiramente importante: ser um transportador de felicidade. Eu quero ser esse mensageiro para os sintrenses.

Como vê a atual gestão de Sintra de Basílio Horta?

Acho, honestamente, que ninguém sente mudança de coisa alguma em Sintra. Se percorrermos o concelho inteiro, testemunharemos que pouco ou nada sofreu alterações: os problemas fundamentais de segurança, qualidade de vida (ou falta dela) e caos no trânsito em muitas zonas mantêm-se ou aumentaram até. Por exemplo, os dados de que dispomos sobre a criminalidade em transportes públicos no ano passado deixa-nos muitas reservas sobre a segurança a que os cidadãos têm direito. E a Câmara Municipal não pode deixar de apontar o dedo, propor alternativas e até criar soluções com os meios que dispõe.

O que faria diferente? Que propostas tem para Sintra?
Muitas coisas. A mobilidade continua um caos…o trânsito às horas de ponta continua caótico, mesmo em muitas zonas sem razão para tal (por exemplo no Cacém ou em Mem-Martins) sem alternativas que se vislumbrem. Depois, não há razão para que – face aos problemas de segurança – o presidente da Câmara não se empenhe em desenhar, com o Ministério da Administração Interna, um programa de segurança para o concelho de Sintra. A própria Policia Municipal tem de deixar de ter o papel quase simbólico que desempenha para se associar a uma solução para o problema de segurança no concelho. Para não falar do IMI (em que o município tem uma palavra a dizer) e do caos e desaproveitamento a que continuam vetadas as zonas turísticas de Sintra. Há algo que quero muito fazer: tornar Sintra um marco do turismo e da cultura nacionais, porque é isso que Sintra representa no imaginário nacional e internacional.

A par de Sintra, que proposta tem para o país? O que faria de diferente no ensino? E na via económica? E na via diplomática?

Penso que temos de reconhecer ao atual Governo alguma eficácia na concretização de uma tarefa gigantesca: recolocar o país no panorama da estabilidade e confiança face aos mercados internacionais que definem hoje, gostemos ou não, a liquidez das economias nacionais. Penso que muito do que eventualmente terá ficado por fazer se deve à primazia e ao enfâse que se colocou nessa missão. A par disso, há dois grandes desafios a que Portugal não pode escapar: tornar a comunicação entre o ensino e o tecido empresarial profícua e permanente e assumir uma diplomacia proativa nos assuntos do seu interesse, como a política económica e financeira da União e o combate ao terrorismo internacional. Se eu fosse primeiro-ministro, há muito teria sido apresentada em Bruxelas uma proposta de linhas programáticas comuns de combate ao Estado Islâmico: a crueldade em estado puro a que temos assistido no último ano não pode, simplesmente, continuar.

Sendo um apaixonado pelos grandes temas internacionais, sobretudo os ligados ao oriente, como vê o novo ambiente no sul da Europa criado pelos recentes atentados em França e na Tunísia? A UE tem de tomar posição? Portugal tem de tomar posição?

Portugal tem imperativamente que tomar posição face ao aumento da ameaça do fundamentalismo islâmico e, sobretudo, ao crescimento do autodenominado Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Se não o fizermos, todos sairemos a perder. Podemos pensar que se trata de um problema pontual de atentados em Paris ou nas praias da Tunísia, mas se não travarmos o Estado Islâmico teremos sérios problemas de segurança e imigração nas próximas duas décadas. Portugal, Espanha, Grécia e Itália são países naturalmente expostos, de forma agravada a este problema e, por isso, têm também de tomar a iniciativa. Como disse, Portugal e Espanha devem, urgentemente, promover um conjunto de plataformas diplomáticas para a definição de um programa comum europeu de combate ao Estado Islâmico. David Cameron teve palavras acertadas: o combate ao Estado Islâmico será o desafio de toda uma geração.

Há risco para a economia portuguesa a crise criada pelos radicais?

Imenso. Por todo o tipo de radicais. E, quanto a este ponto concreto, temos de por o dedo na ferida: quer os radicais da esquerda revolucionária, quer o fundamentalismo islâmico representam um sério risco para a recuperação da economia europeia. Estes últimos pelo risco de desagregação da União em termos de segurança externa e mobilidade interna. A ver vamos como correm as próximas Presidenciais francesas. Em relação à esquerda radical que aproveitou a crise das dívidas soberanas dos últimos anos para se catapultar para o palco politico principal, o risco é, também, significativo: a apologia do “não pagamos” e do desprezo para com o mercado financeiro e para com as instituições tradicionais mais não gerará do que uma imensa perturbação financeira, com consequências graves para os mais desprotegidos, tal como se vê no desenrolar da situação grega.

Sobre o futuro da UE, que impacto terá a Grécia num cenário de Grexit, ou num cenário de manutenção na UE com condições draconianas?

Conforme alguém já disse, mesmo saindo a Grécia, ficam 18 países. Por outro lado, abre-se um precedente grave na União Europeia e cai por terra o mito da irreversibilidade da construção da moeda única e, num certo sentido, da União Europeia. Para Portugal e Irlanda, os riscos são acrescidos: os mercados não deixarão de voltar o olhar para estes dois países, sobretudo para comprovar que a recuperação e a consolidação das contas públicas são reais e não meramente fictícias. Será um tempo difícil para todos, mas sobretudo para os países do Sul.

Podemos dizer que o Syriza é o partido mais revolucionário em toda a Europa? É possível um dia os ricos ajudarem os pobres?

Penso que a solidariedade é um dever, não só a nível das políticas internas dos Estados, mas ao nível da estruturação da própria União Europeia. A Europa não pode simplesmente abandonar os gregos à sua sorte, independentemente do que os levou a esta situação. A história ensina-nos que devemos ser prudentes a atirar pedras em tempos conturbados. Isto não significa que a exigência não se deve manter, assim como a responsabilização. O Syriza tem feito uma lamentável campanha contra a Europa e contra os mercados (que lhes emprestaram dinheiro), esticando a corda da cordialidade e da diplomacia até máximos intoleráveis. Naturalmente que terão de ser responsabilizados por isso mesmo. Mas saia a Grécia ou fique, todos teremos de reaprender o valor da solidariedade e da comunhão de valores. Se não o fizermos, nada restará, daqui a uns anos, deste projeto magnifico a que chamámos União Europeia.

Vítor Norinha

OJE/ Foto: Armindo Cardoso

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