Há três dias, a Chanceler alemã Angela Merkel visitou o antigo campo de concentração de Auschwitz, situado na Polónia, relembrando a profunda vergonha que os crimes cometidos pelos alemães geraram aquando da II Guerra Mundial. A visita de Angela Merkel é histórica.

Num tempo em que a Europa se vê confrontada com um avanço de movimentos e partidos populistas, esta visita é também, e antes de mais, simbólica. Sabe-se que o anti-semitismo tem vindo a crescer em território europeu, logo importa que estas iniciativas sejam noticiadas. Pode-se especular sobre o timing em que esta visita ocorre: estamos muito próximos de eleições no Reino Unido, onde têm sido visíveis sentimentos anti-imigração entre os apoiantes do Brexit.

Mas o posicionamento dos europeus em termos ideológicos não é algo linear. Por exemplo, Caughey e colegas num artigo publicado este ano na “American Political Science Review”, intitulado “Policy Ideology in European Mass Publics, 1981-2016” assim o demonstram. Há uma clara diferença nas opiniões dos europeus de acordo com o local onde o seu país se situa.

Ou seja, nos países mais a norte e na zona mais ocidental da Europa, os cidadãos tendem a ser mais conservadores ao nível económico, ou seja, menos liberais nesta dimensão e mais progressivos no que diz respeito a aspectos sociais, culturais e de aceitação de imigrantes. Por outro lado, os países do antigo Bloco de Leste e do sul europeu tendem a ser socialmente mais conservadores e a aceitar uma maior intervenção do Estado na gestão do dia-a-dia das populações.

Regressando a Merkel e à sua visita, é certo que não sabemos quais são as suas intenções ao reforçar esta agenda mediática, pública e política, como aliás não somos detentores da mesma informação que ela – a chanceler tem, aliás, marcado muito pouco a agenda interna nas últimas semanas. Mas não deixa de ser relevante a forma como marca a sua posição.

Estamos a poucas semanas do Natal, e com toda a azáfama que este mês nos traz, marcar estes dias com algo verdadeiramente central no tempo que hoje vivemos, como o ressurgimento de extremismos historicamente assustadores, é talvez uma das melhores maneiras de celebrar um tempo que se quer de paz: a Paz que nunca se faz de silêncios.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.