Já aqui o escrevi uma vez. Se não fosse a ajuda dos negócios e do capital angolano, empresas como a Galp, a antiga ZON, a Efacec, a Sumol-Compal, ou a Cofaco (só para referir alguns casos), teria possivelmente acabado por falir. Tal como teria acontecido com o Millennium bcp, o BPI, o Montepio Geral e BES, o actual Novo Banco e uma parcela importante dos grupos de comunicação social.

Se não fosse o mercado angolano, uma parte das empresas exportadoras estariam hoje em grandes dificuldades. E se não fosse a abertura e o acolhimento angolano, mais de um quarto de milhão de portugueses estariam sem emprego e sem perspectiva de vida.

É por tudo isso que a presença de um primeiro-ministro português em solo angolano, pela primeira vez em sete anos, se reveste de uma enorme importância.

Angola é um mercado que vale hoje, não os seus quase 30 milhões de habitantes, mas os 300 milhões da futura zona de comércio livre da SADC. É uma potência regional, um mercado com enorme potencial de crescimento e que é um dos principais destinos das exportações portuguesas.

Uma linha de crédito de 1500 milhões de euros, o fim da dupla tributação, a facilitação dos vistos, a assinatura de uma série de acordos de cooperação e, sobretudo, a abertura com que os angolanos estão de novo a acolher os portugueses, provam a habilidade política do primeiro-ministro português e a paciência e simpatia dos governantes angolanos.

Portugal precisa de Angola, como Angola precisa de Portugal. E quem acha que o desembarque de António Costa com calças de ganga foi um deslize, é porque não conhece o staff do primeiro-ministro. Nestas coisas do protocolo, a diplomacia não brinca.

Talvez os jeans do PM queiram afinal sinalizar que, quando chegam a Angola, os portugueses sentem-se bem e em casa de gente amiga. Que o caso de Manuel Vicente, em que os angolanos por sinal eram quem tinha razão, não passou de um episódio triste. Ainda bem. Como referiu o primeiro-ministro, todas as relações têm pontos altos e baixos.

O que importa é olhar para o futuro e fazer com que no final o saldo seja tão positivo como tem sido no passado.