1. A diplomacia portuguesa tem dificuldade em posicionar-se. Perante os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), a diplomacia política e económica tem sido essencialmente reativa e não proativa.

Vem esta ideia a propósito de contratos grandes em Angola ganhos por grupos industriais e de construção portugueses. Estes são contratos de grande relevo para a recuperação das empresas nacionais e Angola continua a ser um dos nossos principais parceiros comerciais. Mais. Há centenas de pequenas empresas que dependem dos projetos em países africanos e que continuam a ganhar contratos.

Em Angola, o presidente João Lourenço tem feito muito para limpar o país da histórica corrupção e renovar a imagem do país. Para além da herança, tem novos protagonistas envolvidos em corrupção.

A estratégia do presidente angolano tem apoiantes de peso, caso de Joe Biden, o presidente norte-americano, que deu indicações para reforçar os laços com aquele país. Por outro lado, temos franceses e espanhóis a “morderem” no que podem em negócios em Angola e nós, que somos parceiros tradicionais, continuamos na sombra.

Fala-se de uma visita de Estado àquele país, mas poderá ser tarde pelo facto de a diplomacia lusa ter dificuldade em perceber em que regiões se deve posicionar. Recorde-se que o interesse por Moçambique ficou a dever-se a Cabo Delgado e foi praticamente necessário “enfiar pelos olhos” o tema para Portugal perceber que precisa estar atento e atuar. Esses dois países e ainda Cabo Verde merecem atenção especial.

Recentemente tivemos uma visita presidencial à Guiné-Bissau, um país com o qual importa manter laços próximos, embora não seja relevante em termos de trocas comerciais. Marcelo acabou a legitimar uma situação constitucional dúbia do atual presidente que não tem Portugal como o seu primeiro aliado. Mas, frise-se, foi uma iniciativa do presidente Marcelo que continua atento às necessidades de manter uma ligação estreita com todos os PALOP.

Portugal tem andado distraído (e bem) com a União Europeia e quer terminar esta presidência sem nódoas, mas para as empresas lusas a recuperação dos grandes mercados angolano e moçambicano é questão crucial.

2. Voltamos ao tema das moratórias, que terminam em setembro. Contrariamente ao que tem sido propalado em algumas análises, desfazer as moratórias terá um impacto significativo em famílias e PME, com insolvências à vista mas, sobretudo, com um problema social enorme quando famílias perderem a habitação.

Apesar de Bruxelas reconhecer que a banca nacional está excessivamente exposta a créditos hipotecários e de consumo, e que foram alvo de moratórias, a verdade é que não vai ser possível a todas as famílias e pequenas empresas renegociarem, entenda-se, estenderem os contratos.

É, por isso, necessária uma solução de médio prazo. O PSD já se mexeu mas, mais uma vez, de forma tímida. Urge perceber que a recuperação económica do país não é uniforme em todas as indústrias e mesmo o turismo e a restauração, dos quais se esperava algum fôlego, estão a sofrer com as incongruências de países como o Reino Unido.

A atividade turística e industrial que lhe está associada encontra-se na corda bamba e não se sabe se tem condições para emergir ou se se vai afundar. Razão pela qual é preferível ser proativo e antecipar o pior cenário de uma recuperação do turismo a meio gás.