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“Angola tornar-se-á num dos principais focos de investimento mundial”

A OPEX, desde sempre atenta ao mercado de capitais angolano, assume hoje a honra de estar na génese da negociação eletrónica de valores mobiliários neste país. Luís Rodrigues, presidente do conselho de administração, defende que Angola continua a ser um bom destino de investimento “desde que seletivo”. Que importância assume o mercado angolano? Que objetivos […]
30 Novembro 2015, 08h30

A OPEX, desde sempre atenta ao mercado de capitais angolano, assume hoje a honra de estar na génese da negociação eletrónica de valores mobiliários neste país. Luís Rodrigues, presidente do conselho de administração, defende que Angola continua a ser um bom destino de investimento “desde que seletivo”.

Que importância assume o mercado angolano? Que objetivos pretendem alcançar neste mercado?
A expressão lusófona traduz oportunidades únicas a todos aqueles que queiram interpretar os diferentes mercados, estágios de desenvolvimento e oportunidades. O comunicar em português é, seguramente, um valor acrescentado e as raízes que unem as culturas e a maneira de estar dos diferentes países onde a língua oficial é a portuguesa proporcionam oportunidades de diversificar unidades de negócio, alargar mercados e corresponder a índices de crescimento porventura limitados na dimensão do mercado português. A OPEX, atenta aos desenvolvimentos do mercado de capitais em Angola, cedo manifestou intenção de fazer parte da solução. Hoje, honra–nos ter sido parte da equipa que permitiu o início da negociação eletrónica de valores mobiliários, que apoia a BODIVA (Bolsa de Dívida e Valores de Angola) no seu quotidiano – na gestão dos Mercados Regulamentados em Angola, colocando a praça financeira angolana, no que o mercado de capitais diz respeito, na órbita internacional. Cientes das responsabilidades que assumimos para com o mercado angolano, queremos continuar a fazer parte do desenvolvimento do setor financeiro e poder contribuir na introdução e desenvolvimento de instrumentos e mercados que o mercado irá gradualmente introduzir e assimilar. Projetos desta natureza e incumbência requerem dedicação e empenho.

Como vê a atual situação económica deste país e de que forma tem afetado a vossa atividade?
A economia angolana tem registado uma expansão notável na última década. Evoluiu principalmente alavancada nas exportações de hidrocarbonetos, que representam 97% do total das exportações, cerca de 75% das receitas do Estado e 40% do PIB. A recente evolução do preço do petróleo tem obrigado a uma política monetária restritiva, mormente na disponibilidade de divisas. Ora, sendo Angola uma economia caracterizada por fortes índices de importação, é lógico que qualquer agente económico, nacional ou estrangeiro, a atuar em Angola sinta os efeitos da interceção de uma procura muito superior à oferta disponível. E quando os efeitos não são diretos são por interposto agente. Acresce que a curva de aprendizagem da evolução angolana todavia não permitiu que os expedientes em vigor estejam adequados a enquadramentos menos favoráveis. Por exemplo, a exigência do sistema bancário em cativar por períodos ilimitados (cada vez maiores) contravalores de moeda exigidos para liquidar transferências para o exterior limita a atuação desses agentes económicos, que assim assistem a entraves de tesouraria, a contrapartes insatisfeitas e a consequentes impactos negativos no negócio. Contudo, a política em curso visa acautelar as necessidades primárias, os projetos estratégicos e o contínuo desenvolvimento da nação. As perspectivas económicas continuam a ser de crescimento. Os ciclos de projetos de interesse nacional são suficientemente longos, tornando-os menos sensíveis, no curto prazo (2-3 anos), a enquadramentos menos favoráveis.

Angola continua a ser um bom destino de investimento?
Angola, a terceira maior economia da África subsariana, necessita implementar outras medidas para além daquelas da política monetária restritiva em curso. Em complemento às inúmeras iniciativas no sentido de diversificar a economia e promover o investimento estrangeiro, agora que as bases que sustentam o desenvolvimento de outras atividades estão alicerçadas, importa que os procedimentos acompanhem a política e a vontade de crescer. Sendo certo que o presente enquadramento força a mudanças de atitudes e comportamentos, ele é igualmente importante para introduzir soluções aos problemas detetados. Atrair investimento estrangeiro é saudável, mas há que ter em consideração o regime fiscal e as condições operacionais no país. Se o controlo cambial é uma dificuldade na liberalização de capitais, implemente-se um sistema de controlo cambial que mitigue os riscos associados (que estão perfeitamente identificados). E as soluções existem e funcionam noutras praças financeiras. A diversificação da economia está a ser instituída, tendo sido eleita, na estratégia de reação que o Governo preparou às recentes condições macroeconómicas, como uma das prioridades. Nesse sentido, tem sido referido que o presente enquadramento poderá ser uma oportunidade para que o país venha a colmatar esta relevante debilidade da economia. Estão previstos importantes investimentos em setores como a agricultura, eletricidade, serviços e manufatura. As oportunidades de negócios de pequena e média dimensão em setores de atividade não petrolíferos, a profissionalização e racionalização das empresas e a automatização dos serviços promoverão novos investimentos e desafios. Um dos principais fatores responsáveis por esta mudança de paradigma no mercado angolano é a emergência da classe média. A classe média angolana é uma força que importa considerar e a quem se destinam os novos projetos, com o apoio governamental e de índole privada, que começam a surgir. Com vista a apoiar o desenvolvimento económico da nação, as autoridades mantêm importantes reservas em moeda estrangeira, o Fundo do Diferencial do Preço do Petróleo, a Reserva Estratégica Petrolífera para as Infraestruturas e o Fundo Soberano de Angola, criado em 2013, completamente capitalizado com 5 mil milhões de dólares financiado pelas receitas do petróleo com vista a apoiar o desenvolvimento de infraestruturas. Angola continua a ser um bom destino de investimento, desde que seletivo e ponderado. Mitigados riscos operacionais, Angola tornar-se-á num dos principais focos de investimento mundial, tantas são as materialidades e oportunidades que este importante país oferece.

 

Por Sónia Bexiga/OJE

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