Como se pode ler nos jornais, ver nas televisões e verificar nas partilhas de informação nos novos meios de comunicação social, este ano de eleições já está ao rubro na opinião pública, nas públicas opiniões e nas opiniões publicadas.
Claro está que esta realidade não é característica excepcional do nosso país. A luta eleitoral é um clássico em democracias, mas ainda assim, assistir à gradual inflamação de argumentos em período pré-campanha eleitoral dá azo a certos pensamentos e a algum divertimento quando as nossas paixões não estão, necessariamente, em causa.
A este propósito, a medida do que acontece no “mundo real”, o que se passa no Facebook, por exemplo, pode dar-nos algumas pistas. Não necessariamente no que respeita a intenções de voto e coisas do género (essa é outra discussão), mas sobre o comportamento individual e grupal de alguns utilizadores “mais activos”. A outra face desta questão são os outlets informativos, que se identificam mais com certas correntes políticas. Em Portugal, essa distinção não é sempre clara, mas o olhar mais atento consegue, aqui e ali, identificar proximidades.
A este propósito, recentemente, o “Journal of Politics” publicou um artigo de Druckman et al que estuda os mecanismos por trás da polarização eleitoral quando existe incivilidade nos meios de comunicação de massa identificados com determinados partidos. Os autores olham para o caso norte-americano e fazem-no a partir da possibilidade de moderação destes meios e os seus impactos no voto.
O estudo debruça-se, principalmente, sobre a variação dos seus níveis de incivilidade (de ataque, de “má educação”, se preferirem), e aponta uma conclusão interessante: quanto maior for essa “falta de educação” relativamente ao adversário do partido que esse meio de comunicação apoia, menor a polarização das perspectivas políticas dos apoiantes do partido político que o meio de comunicação também apoia. O oposto acontece quando alguém que não está alinhado com esse meio de comunicação o lê ou vê e exista grande incivilidade, ou seja, aumenta a sua polarização.
Claro que alguém que, por norma, não se identifica com um certo jornal, canal de televisão ou programa não irá necessariamente lê-lo ou vê-lo, o que faz com que este efeito não se distribua identicamente entre os apoiantes e os não apoiantes de um dado partido. Logo, pode concluir-se que o decréscimo da polarização seja mais marcadamente visível nos casos de evidente “má educação” para com os oponentes neste tipo de meios de comunicação social.
E porque é que estes resultados podem ser relevantes? Porque parecem indicar que haverá uma certa “vacinação” dos eleitores face a conteúdos menos correctos e contra um dado partido, quando esse meio de comunicação está claramente alinhado com eles.
Em Portugal, como as linhas ideológicas entre os meios de comunicação são mais ténues (serão?) talvez estes efeitos não se verifiquem tão marcadamente. Mas, para aqueles que planeiam as estratégias partidárias de anos eleitorais, como o ano em curso, talvez esta informação não seja desinteressante. Como o não é se soubermos o que ocorre noutros meios onde indivíduos (ou perfis falsos) atacam ou honram certas posições. A linha entre o que se propaga e os resultados nas urnas pode não ser (e não deverá ser) assim tão clara.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.