A passagem de ano é propícia a balanços e resoluções. Com 2020 à espreita, desejamos o melhor para nós, para os nossos, para todos, tentando esquecer o que correu menos bem e acreditando que o novo ano será melhor.

Nesta época de festas, de prendas por vezes não tão necessárias, de muito consumismo e desperdício, muitas vezes ligados às tecnologias mas desligados uns dos outros, num mundo em que uns têm tanto e outros tão pouco, o tempo deve ser mais de reflexão e de determinação, de aproveitar os momentos em família, conscientes de que muitos infelizmente não têm essa possibilidade.

No novo ano é preciso avançar. O país precisa, como de pão para a boca, de progredir e de mais investimento na educação, na saúde, na cultura e nos transportes, áreas fundamentais que ainda não recuperaram de forma suficiente e necessária dos penosos tempos de crise.

A propósito da mensagem de Natal do primeiro-ministro, e reconhecendo a extrema importância do reforço anunciado para o serviço público de saúde, esperava-se mais. Então e o Orçamento do Estado que está em vésperas de ser discutido e votado? E os outros problemas do país? Nada foi dito sobre muitos assuntos.

Compreendendo que não se pode falar de tudo, será que de repente o ambiente deixou de importar? Todos falavam de alterações climáticas e após o fiasco da COP 25, já não é preciso falar dos desafios que temos pela frente? Não deixa de ser estranho e preocupante, precisamente numa altura em que algumas zonas do país sentiram os efeitos devastadores das alterações climáticas e as populações ainda estão a lidar com as perdas.

Vamos entrar em 2020 e não podemos ignorar que os problemas ambientais se mantêm, há pessoas a dormir nas ruas, há serviços de urgência fechados no período nocturno, há zonas do país sem transportes, escolas sem condições, a cor da pele e a origem de cada um ainda são um pretexto para semear o ódio, os fenómenos populistas crescem, a precariedade não permite a construção de uma vida segura e a violência doméstica não diminui, terminando 2019 com notícias de mais duas mulheres assassinadas.

Garantir a continuidade do percurso não é suficiente. É preciso fazer outro caminho, que nos leve mais longe e para novos destinos. 2020 não pode ser mais um ano de adiamentos. Não pode ser mais do mesmo.

O ano novo não se faz apenas de desejos e resoluções individuais. Faz-se também de resoluções e lutas colectivas, com homens e mulheres que, apesar das dificuldades por que passam, não baixam os braços. Sejamos ainda mais exigentes com quem tem responsabilidades políticas e construamos a esperança de que é possível termos uma vida melhor, porque há um caminho à espera de ser percorrido.

Bom Ano Novo e que 2020 seja o tal ano de mudança, de melhorias e de avanços. Que 2020 seja um ano melhor!

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.