Normalmente, diz-se que ano novo é sinónimo de vida nova. No entanto, no caso do ano que agora começou, bem podemos afirmar que a ano novo corresponde o mesmo triste fado que tivemos que enfrentar no ano que ainda agora findou.
Na realidade, 2021 dificilmente será diferente do ano 2020. Muitos acreditam que as vacinas que diversas farmacêuticas foram capazes de criar em tempo recorde, num esforço que demonstrou claramente a evolução tecnológica que vivemos, irão contribuir para afastar do horizonte as carregadíssimas nuvens com que convivemos em 2020. Puro engano.
A vacinação maciça que se avizinha na generalidade dos países só irá produzir efeitos, na melhor das hipóteses, no final de 2021, isto se não contarmos com os países em desenvolvimento, que, mais uma vez, serão deixados para o fim da linha. Assim, ao longo do ano, iremos continuar a viver da Covid-19 e para a Covid-19, com todas as implicações que daí resultam.
A economia internacional, apesar da ligeiríssima recuperação a que se possa assistir, continuará a conviver com resultados consideravelmente insatisfatórios, com muitos setores e as respetivas empresas a afundarem-se e trabalhadores a serem lançados no desemprego.
Para Portugal, país onde o turismo e todos os setores que se lhe encontram associados têm um peso decisivo, o ano de 2021 será, uma vez mais, negativo, restando saber o impacto que irá resultar de um eventual aligeiramento das medidas de apoio que o Estado tem concedido à economia.
O fim das moratórias e a redução dos apoios poderá contribuir para o disparar dos números do desemprego, fazendo com que muitas empresas se vejam forçadas a fechar portas, não aguentando a redução da atividade económica decorrente da pandemia. A restauração, a hotelaria e o alojamento local são, apenas, alguns dos setores que continuarão mergulhados numa recessão há muito não vista, que, por efeito de arrastamento, trará consequências difíceis de prever para o conjunto da economia nacional.
No plano político, Portugal terá um novo/velho Presidente, o mesmo governo a ter que satisfazer os caprichos de uma esquerda deslocada da realidade, capaz de, em tempos de crise, continuar a gritar bem alto que se devem melhorar as condições dos trabalhadores, incapaz de reconhecer que o mais importante é manter o nível de emprego, ainda que à custa de eventuais concessões sempre penosas de fazer, e uma direita radical capaz de mobilizar uma população crescentemente insatisfeita, acreditando nas promessas irrealistas que lhe vão sendo feitas.
Desenganem-se aqueles que pensam que virámos a página, sendo capazes de deixar para trás o tristemente célebre ano de 2020 para entrar a toda a velocidade num novo ano que nos traga um mar de boas notícias. 2020 e a pandemia vieram para ficar. Ainda que a doença venha a ser progressivamente erradicada os seus efeitos demorarão vários anos a passar, sendo de prever que esta década seja marcada por uma estagnação económica que não estava, ainda há poucos meses atrás, no nosso horizonte. É, pois, caso para dizer, ano novo, vida velha.