Ou a economia americana é muito resiliente ou algumas leis económicas precisam de ser revistas. Nos EUA foram criados 263 mil empregos em abril, muito acima da expectativa de 190 mil; o desemprego caiu para 3,6%, a taxa de desemprego mais baixa em 50 anos. Há uma queda na população ativa estimada em 500 mil, o que ajudou, mas a redução foi impulsionada sobretudo pelo crescimento económico, que no primeiro trimestre atingiu, em termos anuais, 3,2% (foi 2,9% em 2018).
E isto aconteceu num contexto não inflacionista: a taxa de inflação caiu em março para 1,5%, ao mesmo tempo que os salários estavam a aumentar nesse mês a uma taxa anual de 3,5% (4,4% para os salários mais baixos). A produtividade aumenta a 2,4%, o valor mais alto desde 2010. Uma sorte para Trump, que imediatamente tweetou “JOBS, JOBS, JOBS!”, feliz depois de não se materializarem os sinais de abrandamento de há umas semanas atrás.
Outro sinal que a economia americana não se está a dar mal é que na reunião do princípio do mês, o open market committee da Reserva Federal decidiu por unanimidade não alterar as taxas de juro, quando se especulava se as iria descer. A FED sinaliza assim que, se a economia não está a aquecer a ponto de se justificar subir as taxas de juro, também não considera haver risco de perda de dinamismo nos próximos tempos que leve a descê-las. Isto não terá deixado contente Trump, que tem pressionado Powell, o chairman da FED, para que a taxa de juro seja reduzida em um ponto percentual. E não houve tweets.
Mas afinal está a economia americana forte e de boa saúde? Stiglitz fala de uma economia dopada, Summers classifica a política comercial e as tarifas impostas pelo presidente de loucas, Krugman escreve sobre a “Kakistocracia” (governo pelos piores) de charlatões que Trump impôs, Phelps descreve as teorias económicas mal-usadas. Todos convergem numa leitura: a política económica de Trump só tem este efeito de dinamismo a curto prazo, e os danos a médio e longo prazo serão muito superiores aos benefícios obtidos no imediato.
De facto, só a economia americana conseguiria ter os défices orçamental e externo a que Trump a levou, e que não são sustentáveis. Para já, funciona o posso, quero e mando que só não teve – ainda – sucesso nas tentativas que fez de colocar os seus peões na FED; depois de Moore e Cain, agora parece ser a vez de Winfree e Shelton. Mas a última sondagem mostra que se 51% dos americanos desaprova a sua atuação como presidente, 51% aprova a sua política económica, um trunfo para as eleições presidenciais de 2020.
O que ele vai fazer é simples: continuar a dopar a economia, esperando melhorar ou pelo menos manter a performance económica, o que será tanto mais fácil quanto melhor conseguir controlar as autoridades políticas. O que só significa uma coisa: vamos ver mais do mesmo até ao fim, quando quer que o fim seja.