Ansiedade, desconforto, tensão, pressão, aperto. São várias as palavras usadas pelos analistas para descrever os sintomas que a subida das taxas de juro nas últimas semanas estão a causar aos investidores e ao Banco Central Europeu (BCE). O consenso sobre o diagnóstico estende-se também ao tratamento a anunciar por Christine Lagarde depois da reunião do Conselho de Governadores esta quinta-feira: manter largamente inalterado e monitorizar os desenvolvimentos.
“Dadas as tensões nos mercados obrigacionistas, a reunião de política monetária do BCE é aguardada com ansiedade pelos investidores”, referiu Franck Dixmier, global CIO fixed income, da Allianz Global Investors (GI). ” O aumento nos juros de longo prazo da zona euro, na esteira das taxas de juro norte-americanas, é um motivo de preocupação”.
A subida das taxas de juro está relacionada com as expectativas de uma aceleração da inflação no verão, que deverá ser causada pela reabertura das economias com o avançar dos planos de vacinação e o aumento do consumo por pessoas que poupararam durante a pandemia e ainda por cima receberam estímulos orçamentais.
Dixmier disse que o BCE não deve anunciar qualquer medida concreta em termos de taxas de juro ou programas de compra de ativos, uma opinião partilhada pela grande maioria dos analistas, mas adiantou que, no entanto, os investidores vão estar extremamente atentos à comunicação, e que “uma falta de firmeza ou clareza na mensagem pode criar um evento de mercado”.
Para os analistas do Danske Bank, a principal incógnita é se o BCE se irá referir de forma explícita o recente das yields nominais e reais como um ‘apertar’ injustificado das condições de financiamento ou se não irá tão longe e concluir que decidir “apenas” monitorizar a evolução.
“O primeiro cenário deve desencadear o aumento da compra de obrigações no existente ‘envelope’ PEPP (com as taxas no secundário a baixarem mesmo durante a conferência de imprensa), enquanto o segundo significará que a flexibilidade irá permanecer, mas não com compras adicionais”, referiram.
“Acreditamos que é uma decisão difícil (e também está sujeita à evolução diária do mercado)… mas estamos inclinados para o BCE a concluir que tem de continuar a monitorizar a situação”, sublinharam.
Acelerar o uso da ´bazuca’?
Os analistas do BPI salientaram que o BCE terá de comunicar muito claramente a sua interpretação e futuras ações face às duas principais mudanças no cenário económico: a subida da inflação e as taxas soberanas.
“Acreditamos que Christine Lagarde aliviará os receios de uma recuperação da inflação e salientamos que os níveis atuais se devem a fatores estatísticos que se dissiparão ao longo do ano, mas que, a médio prazo, a inflação voltará a níveis contidos”, disseram.
Sobre a subida das taxas soberanas, na medida em que o BCE pretende manter condições financeiras favoráveis e a parte longa da curva soberana faz parte destas, pode sentir-se “desconfortável” com o recente pico, algo que tem sido comunicado por alguns dos membros do Conselho nos últimos dias.
Os analistas do BPI explicaram que o ritmo de compras líquidas ao abrigo do PEPP 2021 é ainda mais baixo do que no segundo semestre de 2020.
“Acreditamos que a aceleração das compras deste programa é a melhor ferramenta que o BCE tem à sua disposição neste momento para amortecer a recuperação das yields soberanas, e é provável que nas próximas semanas o BCE aumente o ritmo das compras semanais para mais de 20 mil milhões de euros, um ritmo que, mesmo assim, não obrigaria a aumentar o limite PEPP (1,85 mil milhões de euros)”, vincaram.
Revisão das projeções: mais inflação e menos crescimento
Um segundo motivo de interesse na reunião são as novas projeções económicas a divulgar pelo staff do BCE. Em dezembro, o banco central projetava crescimento do PIB de 3,9% em 2021 e 4,2% em 2022.
“O perfil subjacente, no entanto, já parece desatualizado, uma vez que os bloqueios em curso tornam a expectativa do BCE de um crescimento trimestral de 0,6% no primeiro trimestre altamente improvável”, disseram os analistas do banco holandês ING.
Salientaram que a projeção de inflação de 1% em 2021 e 1,1% em 2022 é também um resultado improvável, dados os desenvolvimentos mais recentes. “As razões para a previsão de baixa inflação foram provavelmente preços do petróleo muito mais baixos do que temos atualmente e um alguma subestimação da potencial pressão de alta sobre os preços das reaberturas das economias”.
“Com novos pressupostos para os preços do petróleo e também dados as yields mais elevadas nas obrigações, esperamos uma revisão em baixa das projeções de crescimento para 2021 e uma revisão em alta das da inflação para 2021 e 2022″, vincaram os analistas do ING. “Não esperamos quaisquer revisões das previsões para 2023 como isso poderia sugerir um repensar do ímpeto da inflação pelo BCE, algo que não se espera nesta reunião”.
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