Portugal não pode dar-se ao luxo de gastar mais tempo ao permitir que os grupos de interesses bloqueiem o progresso e as reformas, disse Michael Porter em 2002, oito anos depois do Relatório sobre a competitividade de Portugal. Depois perguntou, Portugal consegue mudar? E respondeu: Não sei se consegue atingir a capacidade de mudar. 14 anos depois daquela segunda visita, todos sabemos que não estamos melhor. Pelo contrário. Em termos relativos estamos pior. Mais de 100 anos depois da revolução republicana estamos relativamente na mesma.
As estatísticas não perdoam. Portugal continua a apresentar um dos piores índices de escolaridade secundária. Visto do estrangeiro é um dos piores países para se trabalhar. A competitividade é das mais fracas na Europa. Desde há anos que a OCDE aconselha Portugal a melhorar a competitividade das empresas, condição necessária para a redução sustentada do défice externo e para retomar a convergência. E insiste: “Ganhos de produtividade serão alcançados com o aprofundamento de reformas estruturais, em particular na área da educação”. Mas muitos portugueses continuam distraídos com trivialidades. Até ao momento da chibatada financeira. Deveriam perguntar-se: é preciso voltar a isso?
Tudo mudou: a demografia (maior esperança de vida), a globalização (concorrência mundial), a digitalização (nos processos de negócio, indústrias, fluxos de capital, socialização, comunicação). Em vários aspetos Portugal não mudou nada. A verdade, porém, é que muitos portugueses querem mudar a nossa maneira de estar no mundo, mudar crenças e valores seculares atávicos, relacionamentos baseados no “porreirismo”, na complacência e desleixo, no compadrio e amiguismo, na falta de exigência e rigor.
É possível mudar desde que haja: a) confiança na liderança para a mudança; b) estratégia económica para o crescimento conhecida e entendida pela maioria; c) comunicação persuasiva sobre a necessidade e capacidade de mudar; d) cumprimento das promessas. O choque da troika, as reformas então iniciadas pelo governo PSD-CDS e os resultados eleitorais revelaram que cerca de metade dos portugueses está imediatamente disponível para contribuir para a mudança. É preciso persuadir mais alguns.
Todavia, os progressos alcançados estão a ser destruídos pela agenda anticapitalista e irresponsável da esquerda conhecida como “radical”. Maria João Avillez escreve no Observador que “a coisa virou: o relógio português andou décadas para trás e os leninistas voltaram a entrar aparatosamente em cena, legitimados pelo líder do partido socialista e chefe do governo”. Mas não são apenas os leninistas do PCP. São também os trotskistas do BE, as toupeiras que vão destruir a burguesia por dentro.
A demagogia dessa esquerda nega a realidade, funda-se em promessas populistas destruidoras da confiança (como a do novo imposto sobre a propriedade privada imobiliária), defende os interesses de minorias instaladas e não tem em conta o interesse geral dos portugueses, nem o que se perspetiva para o futuro. É contra o progresso. Os jovens, aprisionados pelo status quo gerontocrático, são as principais vítimas destas políticas que continuam a influenciar a prática governativa de um PS desprogramado e manipulado.
O Presidente da República dispõe de um capital de liderança único, de conhecimento dos factos e de capacidade de persuasão para produzir, confirmar e acionar a opinião pública que quer a viragem de Portugal para a modernidade. Queremos estar com a Europa mais evoluída, progressiva e solidária.