Entre a conquista de Ceuta em 1415 e a independência das colónias africanas em 1975 (com exceção da Guiné-Bissau, cuja independência foi reconhecida em 1974), decorreram 560 anos. A situação dos territórios de Macau e de Timor resolveu-se nos anos seguintes. Macau foi integrado na República Popular da China em 1999 e Timor tornou-se um estado independente em 2002, depois do fim da ocupação indonésia.

No essencial, a reconfiguração do espaço político-territorial nacional ficou resolvida em 1975. A questão dos Açores e da Madeira, que chegaram a ter grupos independentistas relativamente influentes, resolveu-se em 1976, através da criação de estatutos que reconheceram a autonomia política, administrativa e legislativa desses territórios.

A entrada de Portugal na CEE, atual União Europeia, em 1986, completou o quadro no âmbito do qual se integrou e desenvolveu, ao longo das últimas décadas, o novo projeto nacional. A permanência da soberania nacional nos Açores e na Madeira marca, apesar de tudo, uma diferença significativa em relação ao pequeno Estado peninsular que iniciou, em 1415, a expansão territorial que o levou a estabelecer-se em territórios tão improváveis – e hoje tão disputados e relevantes – como a floresta amazónica, o vasto litoral africano, o Golfo Pérsico, o subcontinente indiano, o mar da China ou o vasto espaço insular indonésio.

Os Açores e a Madeira dão ao país uma vasta projeção no Oceano Atlântico e a reivindicação de um espaço de jurisdição marítima que soma uns gigantescos 4 milhões de km². Sem os Açores e a Madeira, Portugal assemelhar-se-ia a uma espécie de pequena taifa peninsular.  É essa a diferença. É esse o enorme contributo do Portugal insular para o país.

Nas últimas quatro décadas, o chamado regime das autonomias afirmou-se no espaço regional e nacional. Sempre existiram problemas de financiamento das autonomias, que, com maior ou menor dificuldade, foram sempre ultrapassados. Mas, no essencial, a solução autonómica funcionou e manteve a unidade do país.

No entanto, com António Costa, o pior primeiro-ministro desde Vasco Gonçalves, as coisas começaram a mudar para as autonomias. Importa dizer, antes de abordar a questão autonómica, que com ele o caos instalou-se em todo o país. É preciso recuar à I República e ao PREC para encontrar tamanha balbúrdia. O ritmo de escândalos e de demissões de Ministros e Secretários de Estado é alucinante.

O PS colonizou completamente a administração pública e o vasto sector empresarial do Estado. O caso da TAP é disso paradigmático. As informações que nos chegam mostram a forma despudorada como o PS interfere na gestão corrente da empresa, muitas vezes por razões exclusivamente políticas, como revela o caso do email remetido pelo Secretário de Estado Hugo Santos Mendes para a Administração da TAP, cujo propósito era conseguir uma boleia para o Presidente Marcelo, uma vez que o Governo socialista tem de manter “o apoio político do Presidente da República”.

Apesar de tudo, com este padrão de comportamento, Hugo Santos Mendes seria beatificado pelos socialistas açorianos, que o considerariam uma espécie de anjinho. Os socialistas açorianos transformaram a SATA numa espécie de serviço de táxis privativo, com a qual brincaram aos milhões até a falir. Entre 2021 e 2022, o atual Governo dos Açores gastou perto de 390 milhões de euros para pagar os custos da festa socialista na empresa.

Este é o modus operandi dos socialistas. Agir com total impunidade em defesa dos interesses do partido, em detrimento da defesa dos interesses do Estado. No caso dos Açores, cujo governo os socialistas perderam em 2020, António Costa está envolvido numa operação que pode colocar em causa, a médio e longo prazo, a integridade territorial do país.

António Costa está a tentar asfixiar financeiramente o Governo dos Açores para forçar uma mudança política na Região. Deixou de pagar a contribuição nacional no âmbito da reconstrução do Porto das Lajes das Flores, que foi completamente destruído pelo furacão “Lorenzo” em 2019. Atrasou e diminuiu a entrega das verbas do PRR. Deixou degradar o dispositivo policial no arquipélago. Colocou os Açores fora do perímetro de muitos dos apoios criados a nível nacional para apoiar as famílias e as empresas. Em síntese, está a prejudicar, conscientemente, o Povo dos Açores, com o único propósito de colocar em causa o Governo não socialista dos Açores.

É um plano muito perigoso para os interesses do país. Está a destruir o prestígio do Governo autonómico açoriano. A solução que conteve o crescimento do fenómeno independentista nos Açores. É um caminho sem retorno. A continuar assim, António Costa arrisca-se a ficar na História do país como o homem que destruiu a solução autonomista nos Açores e reabriu o debate independentista nos Açores. É isso que a História recordará a seu respeito.