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António Saraiva: “Dos milhões anunciados, chegou zero às empresas”

Neste tom de crítica, o líder da CIP realçou ao primeiro-ministro que, no atual panorama das empresas nacionais, “nem é preciso que cheguem milhões, pelo menos que cheguem tostões”. 
Cristina Bernardo
15 Abril 2020, 18h49

António Saraiva, presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, foi hoje muito crítico sobre as linhas de crédito lançadas pelo Governo para apoiar as empresas superarem o embate do surto do coronavírus, denunciando que, “até ao momento, as epresas tiveram zero de apoios”.

Em declarações após o encontro mantido com o primeiro-ministro, acompanhado de Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, e de Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, o líder da CIP voltou a insistir na necessidade de haver apoios económicos diretos às empresas, recordando o pacote de 20 a 30 mil milhões de euros sugerido pela confederação patronal ma semana passada.

“Essa é uma exigência que continuamos a fazer porque, lamentavelmente, os milhões que têm sido anunciados, na ordem dos 13 mil milhões de euros, aquilo que se vai anunciando para as empresas, zero. Até este momento, as empresas [tiveram] zero de apoios. E, obviamente, à medida, que o tempo passa, a situação é cada vez mais dramática porque aquilo que as empresas necessitam, não é dívida em cima de dívida. Aquilo que as empresas necessitam é de liquidez, de ajuda imediata. E primeiro do que promessas, do que lançar a linha A, B, C, é de efetiva ajuda e liquidez imediata”, defendeu António Saraiva.

“Quanto mais tempo passar, pior, para as empresas porque se estamos a tentar salvar emprego, tentando salvar empresas, se estes anúncios, se estas medidas não chegarem, como não estão a chegar às empresas, porque tirando alguns exemplos do setor do turismo, as linhas não estão a chegar às empresas (…), zero até este momento. Há aqui atrasos que não se entendem e que não se devem entender mesmo”, criticou o presidente da CIP.

No entender de António Saraiva, “as empresas têm que ser rapidamente ajudadas e, por isso, rapidez e eficácia é aquilo que se exige neste momento e foi isso que transmiti ao senhor primeiro ministro quando lhe disse que as sete propostas que mandámos, na nossa posição, têm que ser estudadas”.

“E, por isso, a CIP aqui voltará a uma reunião com o senhor primeiro ministro para discutir a proposta que a CIP fez, porque até agora os indicadores, daquilo que o FMI ainda ontem dizia, a entrevista que o senhor ministro Centeno deu, isto aflige-nos, isto deixa-nos inquietos”, admitiu o presidente da CIP.

“Temos que acudir à economia, temso que ajudar as empresas a preservarem o emprego e a salvarem-se, porque, hoje, os trabalhadores que estão em casa, seja em ‘lay-off’, seja na assistência à família, têm que ter a garantia que têm o seu posto de trabalho assegurado. Isto passa por dar às empresas condições e não chega anunciar milhões, há, pelo menos, que fazer chegar nem que sejam tostões”, advogou António Saraiva.

Sobre a reunião com António Costa, o presidente da CIP explicou que o encontro serviu para avaliar “da possibilidade de uma retoma à normalidade possível”.

“(…) Primeiro, temos que acautelar a saúde pública. Esse é o bem maior que temos que acautelar e, nesse sentido, um regresso, uma retoma das atividades económicas deve ser inteligente, fatiada, assimétrica, quer em termos regionais, quer em termos da população, porque acautelando a saúde pública, não podemos deixar, depois, porque morreu a economia, ficarmos sem futuro”, explicou o líder da CIP.

António Saraiva sugeriu a António Costa que “deveríamos desenvolver uma estratégia em três passos: um regresso gradual à vida nornal, mas acompanhado simultaneamente de um segundo passo dessa estratégia, que é o relançamento das atividades económicas, neste fatiamento, neste evoluir gradual de cada uma delas [atividade económica], sendo que não podemos fazer a todas ao mesmo tempo, nem a todas as regiões ao mesmo tempo”.

“Isto implica logística, logística dos transportes públicos, um desfasamento de horários, enfim, toda uma metodologia que terá de ser estudada, definida, preparada, para poder ser implantada. E, depois desse regresso às atividades económicas, uma reformulação da nossa economia, porque há muitas atividades económicas que vão desaparecer, há outras que estão a emergir, há outras novas que vão surgir, porque já antes desta crise o país caminhava para a digitalização, para a transição da sociedade digital. O futuro do trabalho, com todas as suas implicações, com as novas profissões, com as profissões que vão desaparecer. Isso está à nossa espera, está por acontecer e a reformulação da economia portuguesa ter-se-á que fazer forçosamente e é nesse sentido que todos, sem excepção, empresários, trabalhadores, Governo, temos que estar em união de esforços a conseguir atingir esse objetivo, porque, como eu tenho dito, vamos ultrapassar esta situação de pandemia, preservando, obviamente, a saúde pública, mas hoje todos os empresários têm que estar motivados para segurar portos de trabalho, da mesma maneira que os trabalhadores e os seus representantes têm que estar numa focalização de salvar empresas. É um jogo de seleção, como eu não me canso de dizer e, nesse sentido, todos temos que fazer parte da solução”, defendeu António Saraiva.

Para o presidente da CIP, “há setores que vão gradualmente retomando, os serviços de proximidade, o comércio de proximidade, enfim, há aqui um conjunto de pequeno comércio, entre outras [atividades]. Não nos esqueçamos que a nossa realidade empresarial é composta por micro e pequenas empresas, que sendo pequenas, têm muito emprego, dão emprego a muita gente”.

“E é isso que temos que acautelar. E, para a manutenção dos empregos, regressamos gradualmente, tanto quanto possível, à normalidade. Isto tem metodologias, tem planos de ação que estão a ser formulados, nesta estratégia em três dimensões (…)”, revelou António Saraiva, acrescentando que “este plano está a ser projetado, tal como o senhor Presidente da República, hoje, de alguma maneira, referiu” para estar operacional em maio.

Sobre as previsões de evolução da economia nacional, António Saraiva disse que são “alarmantes”.

“Por isso, é fudamental cuidarmos da economia. É fundamental termos estes dois registos num equilíbrio correto entre dominarmos a pandemia, acautelarmos a saúde pública, mas não esquecermos a economia, porque os números são alarmantes. E, por isso, eu repito, não chega anunciar milhões, quando até agora há zero de apoio às empresas. Há uma esmagadora maioria de empresas que se candidatou a esses milhões e não recebeu tostões. Temos que alterar isto e foi isso que sinalizei hoje ao senhor primeiro ministro e ao senhor ministro da Economia e à senhora ministra do Trabalho. Temos que alterar métodos, temos que provocar rapidez a estes auxílios, a estas medidas que estão a ser anunciadas, porque o Governo tem que agir, encontrando a melhor forma para que todos os agentes envolvidos tenham esta rapidez de execução dos anúncios das linhas de apoio, porque, então não serão linhas de apoio, serão acompanhamentos de funeral”, alertou António Saraiva.

 

 

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