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António Saraiva exige a Bruxelas fundo de recuperação rápido e contra as assimetrias

Numa carta enviada a Ursula Von der Leyen, a que o Jornal Económico teve acesso, o presidente da CIP defende que o Fundo de Recuperação “deverá ser mobilizado de forma fácil e rápida, na proporção das dificuldades causadas pela crise, sem condicionalismos desnecessários”.  
Cristina Bernardo
29 Abril 2020, 16h36

António Saraiva, presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, escreveu uma carta a Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia a exigir rapidez na disponibilização do fundo de recuperação da economia europeia em função do impacto do coronavírus e a necessidade de esse instrumento financeiro combater as assimetrias já existentes no espaço económico comunitário.

Nessa carta, a que o Jornal Económico teve acesso, o presidente da CIP começa por destacar as medidas já acionadas pela Comissão Europeia, “as quais têm sido efetivas em face desta crise sem precedentes que estamos a viver”.

“Mas é preciso muito mais. Na sua reunião de 23 de abril, o Conselho Europeu analisou as necessidades e apresentou uma proposta para a retoma. A CIP acredita que a proposta revista do Quadro Financeiro Plurianual deve ter a dimensão necessária e os instrumentos para enfrentar as consequências económicas e sociais da crise que enfrentamos e, simultaneamente, preparar a União Europeia para o futuro, assegurando a sua competitividade e liderança em áreas fundamentais como o digital, pesquisa e inovação, nomeadamente no setor da saúde”, defende António Saraiva nessa missiva a Ursula Von der Leyen, admitindo que “não é uma tarefa fácil e irá requerer amplos meios”.

No entender do presidente da CIP, “o Fundo de Recuperação será uma parte fundamental desta proposta”, acrescentando: “acreditamos que deverá assentar em subvenções, com a máxima extensão possível, de forma a não sobrecarregar o futuro dos países que já têm elevados níveis de dívida”.

“Também deverá ser mobilizado de forma fácil e rápida, na proporção das dificuldades causadas pela crise, sem condicionalismos desnecessários”, exige António Saraiva.

Para o presidente da CIP, “a União Europeia deverá esforçar-se por um Plano de Recuperação ambicioso que se adeque às severas consequências económicas e sociais que já estamos a viver, preservando ao mesmo tempo o mercado único da UE”.

“De forma isolada, países como Portugal não têm capacidade orçamental para atuar com a mesma velocidade e profundidade que outros parceiros europeus. Hoje, isso já é claro, e essa incerteza está a causar desemprego e desinvestimento a níveis muito preocupantes e com consequências que, se nada se alterar, irão perdurar no tempo e criar uma Europa ainda mais desigual. O projeto europeiu irá certamente sofrer muito com isto”, alerta António Saraiva.

A carta do presidente da CIP sublinha ainda que “sem uma resposta europeia, cada Estado-membro irá continuar a suportar a sua própria economia, com capacidades orçamentais desiguais, apesar do sério esforço de reorganização económica e consolidação orçamental desenvolvido desde 2010”.

“Os Estados-membros com dívida pública mais elevada encontram-se, portanto, numa situação mais complexa e frágil, muito mais expostos às reações dos mercados. Como empresas, temos de assegurar que as medidas aprovadas possibilitem aos governos apoiar as necessidades das companhias, em vez de possibilitarem apenas um maior endividamento privado”, avisa António Saraiva.

O líder da CIP realça também que “as diferentes capacidades de reação do membros da UE irão também danificar o nível do campo operacional no âmbito do mercado único, com consequências a longo prazo”.

“Temos de lutar contra estas assimetrias para salvaguardar a coesão dentro da UE e lançar as bases para a recuperação sustentável”, assume António Saraiva, assinalando que, “como negócios, não podíamos sublinhar mais a urgência de medidas rápidas”.

“As negociações que se avizinham devem revelar unidade e solidariedade, e assegurar que o fundo esteja operacional tão cedo quanto possível”, algo que António Saraiva considera “fundamental para restaurar a confiança na recuperação e na capacidade de a UE atuar no apoio aos seus cidadãos e companhias”.

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