As cenas e encenações de André Ventura e companhia para atrair luzes e câmaras são parte do guião europeu da direita radical e da extrema-direita. Lamento desapontar os aficionados da figura, mas o roteiro do presidente do Chega não resulta de um talento excecional para a maldade.
Ventura não inventou nada – só copiou e adaptou. Não há ali uma única ideia própria, ele é apenas o apóstolo local daquela perigosa trupe de golpistas que cresce como a erva daninha pela Europa e mundo fora. Ventura é uma espécie de ultracongelado, é uma receita, um itinerário destrutivo gizado por outras cabeças. Os protagonistas e os temas que atira para o espaço público são obviamente lusos, mas é apenas isso – o Chega é o franchise nacional da marca extremista, populista, soberanista e nacionalista, por vezes racista e fascista, com que temos de lidar para defender a democracia.
Na base desta corrente política está uma ideia rudimentar: quando eleitos para o parlamento, os membros deste movimento interpretam o mandato popular como legitimação ilimitada para ir além. Além do quê? Além de todas os regras e convenções, incluído os mais básicos códigos de educação e convivência, com o único objetivo de criar palco mediático ao sacerdote Ventura. Pelo caminho, massacram e desacreditam as instituições democráticas e rescrevem a história. A grosseria é, portanto, ponto de honra. A dramatização, obrigatória. E a mentira o motor que tudo alimenta.
Já não sei quem disse, mas disse muito bem – estes personagens e partidos são como o herpes, reemergem sempre que a democracia tem as defesas em baixo. É evidente que hoje estamos vulneráveis a todo o género de ataques oportunistas. O fechamento é o impulso instintivo de sobrevivência das nações. Dito de outra forma, o nacionalismo é a resposta dos povos cansados.
A atmosfera que vivemos em Portugal, onde tudo parece estar mal ou péssimo, até o que está bem ou a melhorar confere às pessoas uma espécie de direito absoluto a odiar, excluir e culpar.
Coloco-me a seguinte questão: a estratégia dos partidos da oposição é igual por toda a parte. Críticas ferozes ao governo, zero compreensão pela elevada dificuldade que significa governar e empolamento de todas as situações que tragam ganhos eleitorais e desgastem o governo. Mas se os partidos agem todos assim, sempre com o máximo de dureza e agressividade, este coro partidário e mediático não reforça e até cauciona quem tem como objetivo implodir o sistema democrático, seja à direita ou à esquerda? Penso que sim e, por isso, estou convencido de que a forma de fazer política tem de ser reinventada. Ou isso ou isto acaba mal.