Quem acha que há concursos estranhos é porque não ouviu falar da Kuh Kuss Challenge, o “Desafio do Beija a Vaca”, lançado pela app suíça Castl em prol de organizações de caridade. Foi um apelo em alemão – dirigido à Suíça, à Alemanha e à Áustria – para juntar dinheiro beijando vacas “com ou sem a língua”. Quem não gostou da graça foi a associação austríaca dos criadores de gado, sobretudo porque um tribunal do Tirol condenou um criador a pagar uma indemnização de 490 mil euros ao viúvo de uma mulher que foi espezinhada por uma manada. Esta coisa já levou a Ministra da Sustentabilidade e Turismo a dizer que “as pastagens não são zoológicos”, que se trata de uma “estupidez perigosa” e que “vai contra os esforços de promover a coexistência nas pastagens”. Com efeito, o governo já tinha até publicado um código de conduta para os caminhantes, precisamente para evitar acidentes. Confesso que tive que ler a notícia duas vezes. Já é suficientemente estranho beijar vacas, mesmo em cenários idílicos de montanha, quanto mais imaginar  um concurso destes. Quem se iria lembrar de uma coisa destas? Só alguém muito torcido. Já agora, porque não a Ordem dos Dentistas criar um concurso de beijar crocodilos ou o Clube dos peludos um de beijar tarântulas? Ou um partido político entusiasmar os seus membros a engolir sapos (pobres bichos!). Para mim já é suficiente estranho o kopi luwak!

Depois descobri que a “kissing challenge” não é novidade, só as vacas é que são. Já havia uma kissing challenge: uma rapariga corre para alguém do sexo masculino, dá-lhe um beijo enquanto faz uma selfie, e foge a correr. Também há rapazes que o fazem, mas têm que correr depressa porque quem está com a rapariga corre-lhe atrás. Ou seja, é bom para fazer exercício, mas não é este o objetivo dos suíços, pois nesse caso beijavam touros. E porque não beijar piranhas? Isso sim, é que é a sério. Perguntem como a Virgilio Martinez, o chef detido no Los Angeles International depois de lhe encontrarem 40 piranhas na bagagem; levou cinco horas a convencer os polícias que eram para cozinhar. Nabo, podia ter dito que eram para beijar! Ainda por cima, isto de beijar é coisa velha –Homero conta que Príamo beijou a mão de Aquiles quando lhe pediu o corpo do seu filho Heitor e Heródoto escreveu sobre o BEIJO no século V aC. Na sua versão mais erótica, o beijo terá sido trazido da Índia pela malta de Alexandre o Grande em 326 aC. Os romanos, esses, beijavam tudo – tinham o osculum, o basium e o savolium, descubra as diferenças – mas não fizeram concursos.

Dei por mim a pensar que ainda bem que isto não chegou a Portugal. Mas de repente lembrei-me: beijinhos, selfies… é melhor não dizer mais nada.