A eleição de Mauricio Macri como Presidente da Argentina a Dezembro de 2015 trouxe ao país, pela primeira vez em mais de uma década, um Presidente ciente da urgência de reformas estruturais em prol de uma economia de mercado e da disciplina orçamental. Um discurso novo para o povo de uma economia que por várias décadas foi moldada por fixação de preços, controlos de fluxos de capital, manipulação cambial e uma gestão relaxada de política orçamental. Mas esta economia também passou por sucessivas crises financeiras e económicas, o que talvez tenha sido o factor que levou o eleitorado argentino a votar numa retórica completamente diferente da que estavam habituados.

As promessas de Macri apelaram não só ao eleitorado argentino, mas também à comunidade de investidores internacionais. Assim que eleito, o novo Presidente conseguiu chegar a acordo com antigos credores internacionais (que sofreram com o incumprimento do anterior Governo) e atrair novos investidores para uma história de reforma estrutural profunda da economia Argentina. Um feito notável mas, ao mesmo tempo, talvez demasiado precoce…

Não é por acaso que os economistas dão tanta atenção a “balanços” e a “equilíbrios”. O estado de equilíbrio é o mais sustentável, para onde normalmente tendem as economias de mercado no longo prazo (!), mas tentar chegar a ele de forma quase instantânea é ingénuo. Como tentar equilibrar uma balança (um processo gradual de tentativa e erro) com um só gesto. Que foi o que Macri fez ao deixar voar tanto capital estrangeiro para a economia Argentina. Ao abrir a balança de capital de forma tão abrupta, a Argentina ficou à mercê do sentimento dos investidores.

A direcção do Governo de Macri é apreciada pelos investidores internacionais mas a execução das reformas tem sido desengonçada. A reforma do sector público praticamente não viu a luz do dia e a consolidação orçamental também tardou em chegar. Isso em conjunto com uma má colheita agrícola, com uma imposição de um imposto sobre investimentos em activos financeiros e com uma valorização do dólar, foi suficiente para fazer os investidores fugir da Argentina. O que, dados os desequilíbrios da balança de capitais, levou a uma forte desvalorização do peso argentino.

Macri devia ter primeiro atacado os problemas estruturais da economia, nomeadamente o imparável crescimento da oferta monetária, antes de abrir a balança de capital da forma que o fez. Arrisca-se agora a perder a confiança que tanto custou a recuperar, porque geriu mal a reabertura da economia Argentina. A direcção das medidas é a correta, mas os equilíbrios demoram o seu tempo a atingir-se. Esperemos que os investidores internacionais percebam isso e dêem uma segunda oportunidade ao Governo de Macri…

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.