Com a aliança entre sustentabilidade e tecnologia somos obrigados a adotar métodos de produção digital que auxiliem os processos na área da arquitetura. Contudo, existem vários obstáculos, especialmente, a ausência de conhecimento de muitos arquitetos sobre economia circular.
A abordagem regenerativa da economia circular tem-se manifestado, desde 2015, como uma oportunidade de reinventar processos, para que cumpram os critérios recomendados pela União Europeia. Como refere Aline Guerreiro, a reciclagem, a valorização de materiais e o aumento da vida útil são premissas essenciais para que um edifício seja regenerativo. O conceito constitui-se um meio de passagem do ‘produzir, consumir e descartar’, para o ‘produzir, consumir e valorizar’.
Neste contexto, torna-se fundamental reconhecer as possibilidades e implicações na utilização da fabricação digital na promoção da reutilização, redução, recuperação e reciclagem. E, consequentemente, é urgente analisar o potencial da fabricação digital na arquitetura como forma de redesenhar processos, aumentar a eficiência e desenvolver modelos de negócio alternativos.
A fabricação aditiva, mais conhecida como impressão 3D, é uma tecnologia que tem a vantagem de permitir a produção de protótipos e de peças complexas a partir de modelos 3D digitais com quase todos os materiais (metais, cerâmica, cimento, polímeros, alimentos, etc.) e formas. São múltiplos os exemplos da sua aplicação na contemporaneidade, incluindo casas, mobiliário urbano, arte, etc.
O amadurecimento da tecnologia, a velocidade e a precisão da fabricação digital pessoal, defendida por Gershenfeld desde 2005, tem permitido a personalizar peças, substituir ou corrigir sem ter que deitar fora. A fabricação aditiva está a alterar em todo o mundo, e das mais variadas formas, o desenho e a produção, conduzindo assim o design a um lugar acessível a todos.
Neste enquadramento, os arquitetos devem questionar-se sobre: como pode ser adotada uma estratégia de economia circular na área da arquitetura? O que tem a economia circular a ver com fabricação digital? Qual o papel do arquiteto no cenário da economia circular?
Destaco dois projetos em curso que podem ajudar a responder às questões colocadas. O primeiro é a 3D Print Canal House, um projeto financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional da União Europeia. Trata-se da impressão 3D de uma casa em tamanho real em Amsterdão, com o objetivo de revolucionar a indústria da construção e oferecer novas soluções habitacionais personalizadas em todo o mundo.
Segundo a equipa de arquitetos, não se trata apenas de impressão 3D mas de uma forma de demonstrar como os valores locais tradicionais podem ser combinados com ideias inovadoras. O material utilizado na impressão é à base de 80% de óleo de linhaça. A opção assenta na hipótese de ser possível derreter os elementos de construção e reutilizá-los para uma nova impressão.
Outro exemplo, com o objetivo de reduzir os custos de construção, o desperdício de material e aumentar a produtividade é o 3D Concrete Printing. A empresa Sika pretende com este projeto usar a impressão 3D para produzir componentes de construção e estruturas complexas, ampliando e apoiando os arquitetos nos seus projetos.
Concluindo, estes exemplos mostram-nos que há um capital de transformação nos processos arquitetónicos em curso. Os arquitetos têm agora que investigar e promover métodos de produção digital que direcionem as políticas nacionais para a manufatura de materiais e processos mais adaptados aos desafios da economia circular.