O Governo prometeu aos portugueses um virar de página e o fim da austeridade. O crescimento seria robusto, Portugal iria convergir com a Europa e o executivo de Lisboa iria dar uma lição a Bruxelas. O discurso, que sabíamos inspirado numa retórica fantasiosa, de facto, nunca bateu certo com a realidade.

A Comissão Europeia, que é frequentemente vista como fonte não de “fake”, mas de “bad news”, alertava na semana passada, pela voz do Comissário Pierre Moscovici, que Portugal continua a enfrentar desequilíbrios económicos, relacionados com a dívida externa, pública e privada”, ainda “consideravelmente acima dos valores de referência”.

Questionado sobre estes avisos à navegação, o primeiro-ministro garantia: “não há fatalidade, é só preciso que haja boas políticas para que tenhamos bons resultados (…) e continuar a assegurar uma trajectória de convergência com a União Europeia”.

António Costa continua a governar a partir de uma redoma de vidro opaca e distante do quotidiano dos portugueses. O primeiro-ministro comete o mesmo erro que os antecessores socialistas que acreditavam estar no caminho imparável da prosperidade, isto até ao dia em que os malditos mercados nos caem em cima e as crises internacionais nos obrigam a suspender temporariamente o curso da soberania financeira, argumentos que só os socialistas nos conseguem vender.

Ora, se por um lado, a banca tem sido a tábua de salvação de muitos pequenos e médios empresários, por outro, voltou a abrir as torneiras ao crédito ao consumo fácil. Os bancos emprestaram 16,3 mil milhões de euros às famílias em 2018, dos quais 3 mil milhões de euros foram para a compra de automóvel e 9,8 mil milhões de euros para a aquisição de casa.

Contudo, a realidade é que a economia arrefece, as exportações estão abaixo dos valores de 2012, a dívida continua elevada, o emprego precário dispara, a produtividade é baixa, as empresas públicas são ineficientes, os tribunais acumulam processos, o combate à corrupção carece de meios, o Serviço Nacional de Saúde bate no fundo, a ferrovia está subaproveitada e o material circulante cai aos pedaços. Só mesmo o primeiro-ministro para querer convencer-nos de que está tudo bem.

Com a arte que se lhe conhece, António Costa pedia aos portugueses para “pedalar com mais força para contrariar as tendências que vêm de fora. Será preciso muito mais do que uma pedalada acelerada para nos vermos livres de uma dor de cabeça deixada por um governo irresponsável. As desculpas esfarrapadas já começaram.

Neste momento, temos todas as razões para estarmos preocupados, sobretudo quando a Comissão Europeia, fiel depositária da verdade da saúde económica e financeira dos Estados, se manifesta verdadeiramente apreensiva quanto ao futuro do nosso país.