Em outubro de 2023, escrevi neste jornal um artigo intitulado “O enorme ‘boom’ da Índia”, no qual fiz referência a um relatório da Morgan Stanley que prevê que, até 2030, a Índia será responsável por um quinto do crescimento global.
Decorridos cerca de dez meses, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi ganhou um terceiro mandato, numa eleição geral mais difícil do que o previsto, e o contexto de incerteza internacional aumentou, com vários conflitos em diferentes geografias, o que gera um horizonte de imprevisibilidade no plano político, financeiro, económico e social.
As tensões geopolíticas, como os conflitos na Europa e no Médio Oriente, podem abalar negativamente a Índia, especialmente em termos de custos de energia e fluxos comerciais.
As boas relações económicas entre a Índia e o Ocidente têm sido uma força motriz significativa para o crescimento económico deste país. Em 2023/2024, a economia indiana cresceu a um ritmo de 8,15%, estimulada principalmente pelo aumento das exportações, em particular de bens manufaturados de elevado valor, como produtos farmacêuticos, químicos, engenharia e eletrónicos. Este crescimento foi favorecido pela crescente integração da Índia nas cadeias globais de valor.
Hoje, a Índia é classificada como uma nação emergente em desenvolvimento. Mas em 2047, ano em que a Índia irá celebrar os 100 anos da sua Independência, estima-se que passe a integrar o patamar dos países desenvolvidos.
A Índia é o país mais populoso do mundo e quando ocorrer o centenário da Independência, prevê-se que a sua população seja de 1.670 milhões, acima da China, com 1.320 milhões, e dos EUA, com 380 milhões.
No plano regional, a Índia poderá beneficiar da desaceleração da economia chinesa, do exponencial problema demográfico de uma população chinesa envelhecida, assim como da tensão visível entre a China e os EUA. Neste contexto, e como referido no artigo já citado, a próxima década será seguramente marcada pelo reforço da presença das empresas indianas em África – que presentemente já contam com o suporte americano no plano diplomático e financeiro – retirando espaço às empresas chinesas.
A boa relação com o Ocidente também está diretamente marcada pela gigantesca diáspora indiana com enorme influência nos EUA e no Reino Unido. Uma rápida análise aos boards das maiores empresas do mundo e constatamos a presença de muitos gestores de origem indiana.
A crescente aproximação da Índia ao Ocidente também passa pelos grandes progressos na salvaguarda da propriedade intelectual, na promoção da inovação e na captação de investimento estrangeiro, como se pode verificar pelo número crescente de pedidos e concessões de patentes. O número de pedidos de patentes aumentou significativamente para 23.141 em 2020, indicando um maior foco na inovação.
Além disso, as relações entre a Índia e o Ocidente têm criado um vasto leque de oportunidades de negócios, que estão a ser explorados por empresas em ambos os lados. O sector tecnológico é um dos mais beneficiados, no qual a Índia se posiciona como um hub global de inovação, atraindo investimentos significativos de empresas ocidentais.
O acelerado crescimento da classe média indiana e o aumento do consumo interno estão, também, a abrir novas oportunidades para as empresas ocidentais nos setores da distribuição, bens de consumo e serviços financeiros. As multinacionais estão a aumentar a sua presença no mercado indiano para aproveitar o potencial de consumo desta população crescente e economicamente ativa.
As relações entre a Índia e o Ocidente são tão boas que o Fundo Monetário Internacional qualifica a Índia de “connector country” da economia mundial.