O que será da EDP se, como tudo indica, a OPA chinesa falhar? À falta de uma bola de cristal, resta parafrasear Churchill e concluir que se trata de um enigma cuja chave será o interesse nacional da China. No fim do dia, será este a ditar se a CTG fica na EDP no longo prazo e se tenta contornar os obstáculos regulatórios, para poder voltar à carga. Mas a chave é também, em certa medida, o interesse nacional de Portugal.

Em linhas gerais, o nosso país tem sabido tirar partido das ambições planetárias da China. O setor da energia é um bom exemplo de como esta pequena potência conseguiu estabelecer uma relação de win win com o gigante asiático. Para tal, tem contribuído a tática de “polícia bom, polícia mau”, que tem sido seguida ao mais alto nível para tentar manter os chineses confortáveis, mas não em demasia.

Senão vejamos: primeiro, abrimos-lhes as portas na EDP e na REN, prometendo que as célebres rendas energéticas, que encheram os cofres do acionista Estado durante décadas, se manteriam inalteradas. Mas agora dá-se o contrário e, afinal, as rendas são para cortar.

O mesmo aconteceu antes da OPA sobre a EDP ser lançada. Primeiro, o Governo fez mais uma lei à medida, que permitiu aos chineses aumentarem os direitos de voto na EDP. Esta decisão terá convencido a CTG de que a OPA seria um passeio no parque. Só que, para espanto dos chineses – que têm dificuldade em entender subtilezas ocidentais como a separação entre Governo e reguladores, já para não falar do célebre umbundling – a ERSE acabaria por desferir um golpe letal na operação, ao criar um precedente com o chumbo da compra da Generg pela também chinesa Datang.

Em resumo, Portugal quer a CTG na EDP pois a sua presença dissuasora afasta predadores. A CTG não conseguiu ainda controlar a EDP na totalidade, mas ao mesmo tempo ninguém conseguirá comprar ou despedaçar a elétrica contra a vontade dos chineses. Por outro lado, da parte das autoridades portuguesas, há como que um esforço para manter a China suficientemente poderosa na EDP, mas não demasiado. Só que, convém lembrar, a margem de manobra dos Governos nacionais não é a mesma de há 20 anos e o futuro da EDP poderá jogar-se noutras paragens.