As classes médias estão a ser espremidas. Quem o diz é a OCDE, que conclui, entre outras coisas, que os chamados millennials estão a ter dificuldade em fazer parte da classe média. Pela primeira vez em 200 anos, muitos jovens correm o risco de viver pior do que os seus pais e avós. E aquilo que alguns, na segurança dos seus empregos fixos, elogiam como um notável desprendimento material dos millennials arrisca ser uma perigosa armadilha que poderá condenar uma geração inteira a vidas miseráveis, assim que a frescura da juventude e os sonhos com unicórnios se desvaneçam. Portugal oferece aos seus jovens instabilidade e precariedade, mas sem que em troca lhes proporcione uma economia dinâmica e em crescimento, que crie oportunidades para todos.

Além de social, o problema é político e económico, com tendência a agravar-se nas próximas décadas, ao ritmo da inovação tecnológica e da anunciada ascensão dos robots. É toda uma forma de vida que estará em risco se não forem tomadas medidas, pois sem classes médias fortes não podem existir democracia, economia de mercado e sistemas de proteção social. E o caminho para o poder fica aberto para a corja de demagogos que já tem destruído países inteiros mundo afora. Temos pela frente uma perigosa espiral de demagogia, chauvinismo e empobrecimento, a que nem países como Inglaterra ou os Estados Unidos escapam.

Por cá, sem contar com os problemas dos jovens, a dificuldade em comprar casa é talvez a face mais visível desta pressão crescente sobre a classe média. E o que fazem os políticos? Muito pouco, para além de atenderem às corporações habituais. Afinal, neste país dá mais votos impedir os proprietários de disporem livremente do que é seu, do que construir habitação pública para aumentar a oferta e moderar os preços. E assim, embalados por cantigas, nos empobrecem a todos. Embora nos tentem convencer do contrário.