Dos resultados da eleição emerge um país profundamente divido, onde, apesar de tudo, Clinton ainda pode ficar à frente na votação popular. Trump ganhou em estados considerados impossíveis e penetrou mais do que se esperava nas minorias e no voto feminino. Mas o que lhe deu esta vitória foi a adesão generalizada ocorrida nas pequenas e médias povoações, nas zonas rurais e não metropolitanas, onde reside parte considerável da classe trabalhadora branca com menores níveis de qualificação.
Num país profundamente desigual observa-se que para além das desigualdades de rendimento, são as desigualdades territoriais e de classe que se tornaram determinantes para a vitória de Trump. O discurso racista, xenófobo, protecionista, securitário e antissistema atiçou medos, incertezas acumuladas e sentimentos de intolerância em relação às minorias e de injustiça face aos mais privilegiados. Receios que se impregnaram nos quotidianos invisíveis de muitos milhões de americanos, aos quais os meios de comunicação e grande parte dos políticos nem sequer tentaram perceber e dar voz.
Trump explorou isso maximizando a demagogia e apresentando soluções radicais e demasiado fáceis. Mais uma vez a esquerda optou pelo candidato do status quo e pelo mal menor. Falhou. Não se sabe como seria a disputa se o candidato fosse Sanders. Mas uma coisa tenho como certa, este teria tido mais capacidade de ir ao encontro dos descontentes por via de uma agenda progressista e alternativa. A América precisava mesmo de uma resposta socialista.