Já quase havíamos esquecido o que era esta política. Andávamos tão ocupados a discutir défice, dívida e reformas (que nunca aconteceram, nem com a direita) que Portugal quase encontrava a luz. Foi por pouco. Mas entretanto tudo mudou: a troika saiu e levou com ela o único incentivo para que os governos tivessem coragem de despedir no Estado, flexibilizar mais o mercado de trabalho, racionalizar as empresas públicas. Voltámos à política rasca que embala o país, que precisava de pão mas recebe circo.

A direita foi cilindrada, e bem, com a história das offshores. Paulo Núncio foi uma surpresa? Claro que não. Ou alguém se esquece da lamentável Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso da Lista VIP, que este negou ter dado instruções e fez rolar cabeças? Quem não se esqueceu certamente foi Maria Luís Albuquerque, que já o queria fora nessa altura mas teve de ceder a Portas. A vingança chega agora, que a ex-ministra das Finanças já disse estar disponível para falar.

Mais de um ano depois de ter saído do poder, a pergunta que fazemos é: que esqueletos estão ainda por descobrir aos partidos que chamaram a si o cunho da seriedade e que tanto se orgulhavam de um novo modo de estar na política, quase “anti-oligarcas”?

A esquerda ofusca a trapalhada de Centeno na CGD com as offshores. Porém, dá-se ao luxo de impedir a divulgação dos créditos concedidos pela Caixa. Como é possível?! Depois do caso Domingues, depois da sombra dos créditos no tempo do Partido Socialista, depois de exigir esclarecimentos cabais sobre falta de comunicação das offshores pela coligação à AT, diz, sem vergonha, que não haverá divulgação dos créditos concedidos pela Caixa, que terão sido o carrasco do banco.

Em situações normais, o argumentário para não divulgar informação desta natureza convencia-me, e devia convencer a todos, sob pena de entrarmos numa espiral delatora que se apoderou da justiça e da política portuguesas. Mas chegados aqui, exige-se um mínimo de coerência a esta esquerda que, de cada vez que a narrativa não lhe convém arranja uma nova, desenterrando mais um esqueleto da direita, e que, numa atitude déspota e de mentira, ou apenas de política no seu pior, manipula a informação no Parlamento com cortinas de fumo.

Já escrevi que a direita foi o carrasco da banca, incapaz de estancar problemas criados pela crise e pelas questões internas de cada instituição. Mas terminou a complacência com a esquerda. Depois de ter herdado um setor financeiro devastado pela direita, a esquerda não fez melhor. Mentiu e quer continuar a fazê-lo, empolando outras vitórias, garantindo que Portugal está bem e recomenda-se. Não está. A política desta esquerda é a de José Sócrates. Voltámos à política de casos e de carácter ou falta dele. Voltámos ao circo.