Portugal necessita de medidas urgentes que deem prioridade à criança, bem como de um plano de emergência infantil. É necessário que a nossa sociedade reconheça que a criança tem direitos e que o primeiro deles é poder crescer numa família que a queira e a proteja, mesmo que não seja a sua família biológica.

A consciência coletiva do dever de proteger os que são mais vulneráveis deve afirmar-se cada vez mais, embora infelizmente nem sempre motive a sociedade civil para um verdadeiro compromisso proativo.

O facto é que os problemas relacionados com as crianças continuam a não ser uma prioridade na agenda política. O investimento na resolução da crise da população infantil é essencial. Urge definir uma estratégia que passe por um reforço da parentalidade positiva e por um observatório dos cuidados às crianças.

Mais vale orgulharmo-nos da felicidade delas do que de um défice orçamental que atinja mínimos históricos. Aliás, o grau de desenvolvimento de um país mede-se mais pelo bem-estar que dispensa às suas crianças do que pelo sucesso dos seus indicadores económicos.

Todos devemos estar sensíveis aos sinais de alerta dados por jovens que conheçamos e ser proativos perante quadros de tristeza, isolamento, comportamentos autodestrutivos e agressividade.

É essencial aumentar as molduras penais dos prevaricadores e reforçar a qualidade das redes de apoio à vítima, bem como permitir mecanismos de monitorização e supervisão parental nas famílias de risco.

Urge criar programas específicos de intervenção que visem uma eficaz integração familiar e socioeducativa de crianças em risco de exclusão familiar e social. Mas não vale a pena fazer a lei se a rede social não tiver os meios necessários para executar as decisões tomadas e é isso que está a acontecer, neste momento, em Portugal.

Enquanto não se apelar à participação ativa da comunidade numa relação de parceria com o Estado, não será possível evoluir para uma sociedade que possa garantir o bem-estar e o desenvolvimento integral dos seus jovens.