A Alemanha é a mais poderosa economia europeia, mas tem estado em recessão nos dois últimos anos e assim deverá continuar este ano. As eleições de 23 de Fevereiro, dia em que escrevo este texto, são muito importantes também para o futuro da União Europeia (UE).

A percepção de que a imigração ilegal estava sem controlo favoreceu o crescimento da AfD da extrema-direita. Os Verdes alemães, com o fundamentalismo climático de só quererem uma rede eléctrica com energias intermitentes eólica e fotovoltaica, e apenas veículos eléctricos banindo os veículos com motor térmico, levaram a Alemanha e a própria UE a um trágico impasse na energia e na indústria, designadamente no sector automóvel. O abandono da energia nuclear levou, como escrevi na altura, a terem que recorrer mais ao carvão e ao gás natural com a consequente e perigosa dependência da Rússia, ao aumento dos preços da electricidade e ao aumento das emissões de CO2.

Nos automóveis, assistimos à invasão da Europa pelos veículos eléctricos chineses, pondo em grandes dificuldades o sector automóvel na Alemanha. Os alemães atrasaram-se quer na indústria, quer na Administração Pública na passagem para o digital. Os altos preços da energia levaram as grandes empresas alemães a ameaçarem deslocalizar-se para outras paragens, designadamente para os EUA, aprofundando a desindustrialização em curso.

O modelo de negócios alemão assente na tripla externalização da defesa à Nato e aos EUA, da energia (gás natural) à Rússia e da indústria à China, quer para o aprovisionamento de componentes, quer para a venda dos produtos da então excelente indústria electromecânica alemã, esgotou-se. Um governo disfuncional de três partidos, SPD, Liberais e Verdes, liderado pelo social-democrata Scholz, completava o quadro do impasse alemão.

Nestas eleições espera-se a vitória da CDU/CSU, com cerca de 30% nas sondagens, liderada pelo democrata-cristão Friedrich Merz que deverá ser o novo chanceler. A AfD deverá ficar em segundo com 20%, o SPD em terceiro com 16%, averbando uma contundente derrota que deverá pôr em causa a liderança de Scholz, os Verdes em quarto com 13% e os Liberais arriscam-se a não entrar no Parlamento por não atingirem o mínimo de 5%.

Espera-se, na melhor das hipóteses, uma grande coligação CDU/SPD, mas pode não chegar para terem a maioria, tendo então que se recorrer aos Verdes, o que seria trágico para a Alemanha, porque teríamos de novo um governo muito disfuncional e os Verdes manteriam o veto sobre coisas que é preciso fazer, como o regresso ao nuclear, já prometido por Merz, provavelmente com os pequenos reactores nucleares (SMR) e uma política económica mais realista na vertente energia-clima, que propicie a recuperação económica da Alemanha.

Também será necessária a flexibilização da regra constitucional que limita o défice público estrutural a 0,35% do PIB (debt brake) para acomodar urgentes investimentos públicos nas infraestruturas, nomeadamente digitais, e na defesa. Mas, mesmo que a Alemanha venha a ter um governo operacional, teremos dificuldades na UE porque não haverá o tradicional motor europeu Alemanha/França, devido ao impasse político francês.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.