Quando se fala de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e nas consequências para o clima, há uma tendência redutora de nos focarmos nas emissões de CO2 e no setor dos transportes, ignorando outros gases e outras fontes emissoras que têm uma importância significativa nesta problemática.
Esta tendência, para além de criar uma perceção pública enviesada e incompleta, tem como consequência que nos foquemos quase exclusivamente na procura de soluções para esse setor, ignorando outras opções que muitas vezes poderão ser mais custo eficientes na obtenção do mesmo nível de redução de emissões de GEE, para além de terem também, outros impactos relevantes na nossa vida. Apenas como exemplo citarei dois casos: a desnuclearização da produção de eletricidade e os fogos florestais.
Como muito recentemente mostra um relatório da Agência Internacional de Energia, a produção de energia elétrica por fontes renováveis está longe de conseguir suprir as necessidades crescentes de energia , em particular, na forma de eletricidade. Ora, as alternativas conhecidas são o carvão, o gás natural e a energia nuclear. As primeiras são importantes fontes de emissão de GEE e, por isso, só serão eficazes se acompanhadas de sistemas de Captura e Sequestro de Carbono (CCS) e/ou Captura, Sequestro e Utilização de Carbono (CCUS).
Em alternativa ou complementarmente, poderíamos recorrer à geração de eletricidade pela via nuclear. Mas o referido relatório aponta para um abandono progressivo dessa solução, com exceção dos países asiáticos, o que a prazo poderá comprometer definitivamente as metas de redução acordadas em Paris.
Bem mais próximo de nós e com consequências sociais e económicas devastadoras, assistimos aos, infelizmente, cada vez mais habituais fogos florestais. Para além destes aspetos, o impacto nas alterações climáticas é também muito relevante e, por duas vias: a libertação de CO2 para a atmosfera, e a redução significativa do potencial sumidouro que o desaparecimento de amplas manchas verdes significa.
São dois temas a merecer a nossa atenção, embora o caso do nuclear esteja há muito descartado em Portugal. Mas a União Europeia deveria repensar o seu programa nuclear. Sabemos que não é uma opção inócua e fácil, mas parece-nos perigoso ser pura e simplesmente excluída.
Já no que respeita aos fogos florestais, é um tema bem presente na realidade portuguesa, embora não seja exclusivo do nosso país. Seria uma boa medida de transparência inventariar e tornar público o seu impacto climático, de modo a colocar esse aspeto na equação e permitir tomar as medidas adequadas, quer a nível de prevenção quer de combate e mitigação.
Afinal, o problema de emissão de GEE não é um exclusivo dos transportes…