As eleições autárquicas constituem sempre um importante momento de clarificação das vontades das populações. Dado que muitos dos candidatos têm raízes no local onde se candidatam (embora, cada vez menos isto aconteça…) muitas vezes, escolher um ou outro candidato não está tão dependente das simpatias partidárias, como frequentemente acontece nas eleições legislativas, mas sim de outros fatores, como as propostas e ideias para resolver problemas concretos que afetam esses locais – por vezes, problemas com soluções simples – ou até as ligações emocionais (de vária ordem) que os eleitores têm com esses candidatos.

Escolher um presidente de câmara, de junta de freguesia ou de assembleia municipal é um dever que os cidadãos têm, de extrema importância para a melhoria das condições de vida dos territórios. Sabe-se, no entanto, que nem sempre os cidadãos fazem as suas escolhas devidamente informados, dado que a informação é, por vezes, assimétrica, não chegando às pessoas da mesma forma nem com a mesma qualidade.

É claro hoje o impacto que as fake news e a informação manipulada divulgada através da Internet podem ter no processo de escolha dos cidadãos. Longe de ser um problema nacional (basta ver o que têm acontecido nas eleições dos EUA ou do referendo ao Brexit), é especialmente preocupante num país como Portugal, onde há ainda uma parte significativa da população com défices ao nível da literacia digital.

As políticas públicas têm aqui um papel importante na resposta a estas “falhas”, quer através do sistema de ensino quer das políticas de inclusão digital (capacitando os cidadãos para suas escolhas), mas também ao nível da regulação.

No final, interessa a todos ter pessoas competentes à frente dos municípios. É preciso não esquecer que, no âmbito das políticas de descentralização (e enquanto não há regionalização…), os municípios têm um número cada vez maior de competências (saúde, educação, habitação, transportes, área social, empreendedorismo, etc.), mas também um papel cada vez mais importante ao nível da atração de investimentos para os seus territórios, nomeadamente assentes na investigação e na inovação.

Nestas áreas, é previsível que grande parte dos investimentos previstos para Portugal para os próximos anos (nomeadamente através do Portugal 2030 e do PRR) tenha o envolvimento das instituições locais e regionais, designadamente os municípios e as comunidades intermunicipais – quer de forma direta quer indireta.

Gerir os recursos à disposição dos municípios nos próximos anos vai ser um desafio para os milhares de autarcas que vão ser eleitos no final desta semana. O que desejamos, para bem de todos nós, é que sejam feitas boas escolhas!