Os movimentos de adesão espontânea surgidos pelo mundo fora assumiram nalguns casos uma marca muito negativa e destruidora por onde passaram, pondo em causa tudo o que seja aparentado com o sistema. Isto proporcionou, mas não legitima, vandalização, roubo e destruição de património.

Tudo justificado por um excesso policial nos Estados Unidos que desencadeou o aparato da insatisfação. O confinamento devido ao coronavírus pode ter contribuído para alguns comportamentos, que não justifica nem legitima. O sentimento de protesto, mesmo sem fundamento próprio, resulta de injustiças relativas, de frustrações múltiplas e de falta de perspetivas reais de realização.

Como em todos os protestos públicos de grupo, vejam-se os coletes amarelos em França, há radicais que se escondem por trás das linhas sinceras de protesto e emergem pela violência e com o objetivo de provocar destruição. Usam chavões do capitalismo ou da corrupção, mas criam disrupção. Contudo, pode afirmar-se como posição ideológica distinta das motivações dos criminosos de oportunidade.

Estes movimentos inorgânicos impulsionados pelas redes sociais representam um grito de insatisfação semelhante ao que vimos despontar inúmeras vezes, em universidades ou como o Maio de 1968, um movimento de contestação de gente que busca o seu espaço e que desafia as convenções.

A gravidade destes comportamentos é quando ultrapassam os limites da racionalidade. A destruição indiscriminada de património, desta vez expresso na vandalização de estátuas de personalidades representantes de valores e comportamentos, nas quais os manifestantes não se reveem, não tem qualquer justificação. Destruir os elementos que registam a história não significa que eles tenham deixado de existir ou que se celebrem esses atos. Representam o registo do qual não podemos, nem devemos esquecer pois se trata de um legado para a reflexão e a recordação do nosso passado coletivo e herança recebida, como título de propriedade do património que iremos deixar.

A estatuária representa mais do que arte, um sentido estético da história que regista e reconhece os seus heróis e o seu contributo para os avanços do país. Destruir objetos que não se podem defender, que à época assumiam o mérito da imortalização, representa um ato de cobardia e de negação do passado. Quem escondido pratica o ato é imbecil, ignorante e falho de carácter.

A história é o betão que liga o passado com o presente e entrelaça as fundações com a cobertura do futuro, exprime o reconhecimento pelo país que recebemos e que deixamos para as gerações futuras. Os factos que a integram devem ser lidos à luz do momento em que ocorreram e não nas circunstâncias do presente.

Podemos não aceitar os comportamentos do passado, mas não podemos negá-los atentos os condicionalismos que os rodearam. Apenas se conhecermos factos podemos tirar as lições adequadas para não regressar a um passado que não se quer repetir. A pedra serve para honrar o passado e não para partir montras. Para que a história que não se esvazie na espuma das manifestações de ocasião.