Contrair um empréstimo pressupõe a satisfação de uma necessidade pessoal, mas também a assunção de um compromisso: a responsabilidade para honrar com o pagamento do capital solicitado e dos respetivos juros, ou seja, o preço do dinheiro no prazo solicitado. Esse compromisso assumido pelo indivíduo pressupõe a expetativa de ser capaz de gerar poupança futura. Estes são os princípios de base da literacia financeira dos cidadãos: o empréstimo como antecipação de rendimentos futuros, de modo a satisfazer necessidades presentes de financiamento que, uma vez realizadas, poderão ajudar à formação desses mesmos rendimentos.
Mais do que a mensagem de alarme que é habitualmente sugerida em torno da progressão do endividamento, importa ter presente que o financiamento às famílias decorre das suas necessidades de progressão nas suas condições de vida.
Cerca de 40% dos indivíduos prevê vir a necessitar de um financiamento entre os próximos seis meses a um ano. Num recente estudo sobre tendências de consumo nas gerações Z, Y e X (“Montepio Crédito – Consumer Trends 2019”), são evidentes as necessidades por fase do ciclo de vida. Realça-se a transversalidade da propensão a contrair empréstimo para a aquisição ou troca de automóvel (38% dos inquiridos referia essa necessidade). Trata-se de uma necessidade comum, a de assegurar a mobilidade.
Depois, é curioso verificar a importância que os Centennials (geração Z) dão à possibilidade de recorrerem ao crédito para o financiamento de estudos ou ações de formação (25% do segmento) e de aquisição de equipamentos de comunicação como smatphones e outros equipamentos informáticos. Já os Millennials (geração Y), da faixa etária compreendida entre os 25 e 39 anos, alteram as suas preferências para a aquisição de bens para o lar (28% do segmento).
É curioso ver como mudam as necessidades de financiamento quando se chega à Geração X: ganha maior peso a necessidade de contrair um empréstimo para fazer obras em casa (29% do segmento). Mas é neste segmento que também se verifica uma realidade vivida no passado recente: o sobre-endividamento. São os indivíduos da geração X que mais referem a necessidade de obterem crédito para consolidarem outros créditos contraídos no passado (11% do segmento).
Sendo sintomático da dificuldade, não deixa de ser importante que o façam, pois na maioria dos casos, é possível trocar responsabilidades anteriores por uma nova responsabilidade em que o valor da prestação baixe significativamente, ficando os consumidores mais aptos a suportarem as despesas inerentes ao crédito.
O crédito aos consumidores é cada vez mais assumido como um importante instrumento social, de apoio às pessoas, nas diversas fases do seu ciclo de vida. É uma ferramenta intergeracional que apoia o desenvolvimento dos indivíduos e, como sucede com todas as responsabilidades que assumimos na vida, deve ser utilizado moderadamente e com aconselhamento de profissionais. Daí, a maior necessidade de informação, de formação e de uma regulação ativa, que dê maior segurança a todos os atores que fazem parte deste mercado.