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As grandes empresas portuguesas que partiram à descoberta do mercado brasileiro

Foi na década de 90 que várias empresas portuguesas rumaram ao Brasil, com o objetivo de internacionalizar o negócio. Enquanto umas elegeram o Brasil como principal destino para a sua internacionalização, outras foram forçadas a desistir devido a condições económicas adversas ou à ruína a que foram conduzidas na sequência de erros de gestão. Conheça algumas dessas histórias.
6 Outubro 2018, 14h00

  • A jornada turbulenta da antiga PT em terras de Vera Cruz

A antiga Portugal Telecom (PT), atual Pharol, foi uma das empresas portuguesas que se lançou na conquista do mercado brasileiro ainda na década de 90. A empresa de telecomunicações adquiriu, em 1998, a Telesp Celular por 3,59 mil milhões de reais (cerca de 775 milhões de euros) e, dois anos mais tarde, comprou a Ceterp Celular por 150 milhões de reais (32,4 milhões de euros).

Apesar de estas apostas terem permitido à PT ganhar escala no país, foi a “joint venture” com a espanhola Telefónica e a brasileira Vivo, em 2003, que colocou a telecom portuguesa nas bocas do mundo dos dois lados do oceano. A Vivo era, na altura, a maior operadora de rede móvel do mercado brasileiro e a PT assumiu uma posição de peso nesta parceria, o que apesar de ter reforçado o posicionamento da empresa no país, se viria a revelar um negócio ruinoso anos mais tarde.

Apesar de nunca terem sido apresentadas provas concretas, a Vivo viu-se envolvida em agosto de 2005 num escândalo político no Brasil que ficou conhecido como “mensalão” e que veio pôr a descoberto um gigantesco esquema de compra de votos de parlamentares. A doação de recursos da PT ao Partido dos Trabalhadores, então liderado por Lula da Silva – tal como foi denunciado pelo delator do esquema, o ex-deputado Roberto Jefferson – nunca se comprovou, mas a imagem empresa não escapou impoluta.

Em 2010, os acionistas de referência da PT anunciam a intenção de vender a sua posição na Vivo à Telefónica. A decisão não agradou ao Governo de José Sócrates que, pela primeira vez na história do país, usou a Golden Share (500 ações detidas pelo Estado e que lhe permitem bloquear negócios que comprometam o interesse estratégico nacional) para vetar a venda. Para Sócrates, a presença da companhia no mercado brasileiro era de “interesse nacional” e, dado o impasse criado, a PT virou-se para um novo negócio no Brasil: a operadora Oi.

A Oi era, na época, a mais recente aposta do Governo de Lula da Silva para revolucionar o setor das telecoms brasileiro. Em outubro de 2013, a PT e a Oi anunciaram a sua fusão, o que se veio a revelar um negócio ainda mais desastroso do que o anterior. Aquela que foi a maior operação financeira da história nacional e que prometia transformar a Oi num caso de sucesso acabou por cair por terra com o default de 900 milhões de Rioforte, detida pelo Grupo Espírito Santo (que fazia parte do corpo de acionistas da PT). Em razão deste default, a participação da PT na Oi foi reduzida para 25,6%. Atualmente, a Pharol (antiga PT) detém apenas 7,6% da Oi, após a empresa ter decidido não participar na recapitalização da operadora brasileira através de conversão de dívida.

 

  • O périplo da Galp Energia em busca do ‘ouro negro’ brasileiro

A Galp Energia está presente no mercado brasileiro há mais de 20 anos e este tem sido um dos motores de crescimento da petrolífera nacional. No segundo trimestre deste ano, a Galp Energia conseguiu ultrapassar a marca dos 100 milhões de barris de petróleo e gás no Brasil, tendo também superado a produção média de 100.000 barris de petróleo e gás por dia no Brasil no Campo Lula, localizado na Bacia de Santos, no estado brasileiro de São Paulo.

A entrada da petrolífera portuguesa no país deu-se em 1999, através da Petrogal Brasil. Juntamente com a brasileira Petrobras, a Galp Energia conseguiu a concessão de duas participações de 10% em blocos localizados nas águas ultraprofundas da Bacia de Santos. A partir daí, o negócio começou a florescer. Nos últimos anos, o volume de investimentos da cotada no Brasil ultrapassou os cinco mil milhões de dólares (4,2 mil milhões de euros) e o mercado brasileiro passou a ser uma das prioridades para a empresa.

Os projetos no Brasil corresponderam aproximadamente a 80% do investimento total da unidade de negócios de exploração e produção de petróleo e gás da companhia. Entre eles encontram-se projetos na Bacia de Pernambuco, Bacia de Barreirinhas, Bacias Sergipe – Alagoas e na Bacia de Potiguar, todos eles ao longo da costa brasileira. Grande parte destes investimentos contam com alguns dos parceiros mais sólidos da indústria, como a petrolífera brasileira Petrobras, a Sinopec, a Equinor, a ExxonMobil, a Total e a Chevron.

 

  • Os negócios luminosos da EDP e as malhas da Justiça

A EDP – Energias de Portugal estreou-se no Brasil em 1996, com a aquisição de uma participação minoritária na Companhia de Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro, mas foi preciso mais um ano até a elétrica nacional realizar o seu primeiro grande investimento no país. Este aconteceu com a compra de 25% da hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães, no estado brasileiro de Tocantins. Nos anos seguintes, deu-se a aquisição de participações na Bandeirante Energia e na Iven, até ser criada a EDP Brasil em 2000.

Com esta subsidiária, a EDP iniciou, em parceria com a Petrobras, a construção da termelétrica Fafen, no pólo petroquímico de Camaçari, no estado da Bahia. Depois desse primeiro projeto com assinatura da EDP Brasil, seguiram-se muitos outros, nos quais se destacaram as áreas da distribuição e produção termoelétrica. Nos primeiros seis meses do ano, a EDP Brasil conseguiu um resultado líquido de 441,8 milhões de reais (cerca de 100 milhões de euros), o que corresponde a mais 59,6% do que em igual período do ano passado.

Apesar do aparente sucesso destes empreendimentos, ficam para a história também as possíveis práticas irregulares que envolveram a EDP e as construtoras Lena e Odebrecht levou António Mexia. Em março deste ano, foi noticiado que a EDP fez transferências no valor de quase 20 milhões de euros para o consórcio luso-brasileiro formado pelas construtoras Lena e Odebrecht. A transferência carecia de qualquer justificação e pode ter sido responsável pelo aumento de 55% para 760 milhões de euros, do custo da Barragem do Baixo Sabor, em Trás-os-Montes. A fim de se proteger, o CEO da EDP, António Mexia, encarregou a EY Portugal de realizar uma auditoria ao plano de barragens.

 

  • A aventura mal sucedida da Jerónimo Martins

A Jerónimo Martins foi outra das empresas que partiu à descoberta do mercado brasileiro. O investimento começou nos anos 90 e, contrariamente ao que aconteceu na Polónia, não teve o sucesso pretendido. O grupo deu entrada no país com a compra dos Supermercados Sé, em 1997, que contava na altura com 60 lojas no estado de São Paulo.

Mas pouco depois da incursão da Jerónimo Martins pelo Brasil, o país assistiu a uma degradação das suas condições económicas e políticas, o que levou à queda da moeda brasileira e veio afastar capitais estrangeiros do país. Face aos resultados negativos apresentados em 2001, a Jerónimo Martins anunciou em 2002 a venda dos Supermercados Sé ao Grupo Pão de Açucar por 143 milhões de euros.

Apesar de o negócio da retalhista em solo brasileiro não ter corrido como esperado, o presidente do grupo, Alexandre Soares dos Santos, não descarta a possibilidade de um dia regressar ao Brasil. “Quando tivemos que sair do Brasil, única e simplesmente, não foi por erros do Brasil, foi por erros cometidos pela ‘holding’ em Portugal”. “A companhia no Brasil estava a funcionar bem, a ‘holding’ é que não tinha dinheiro para emprestar”, afirmou, numa entrevista ao “Jornal de Negócios”, no final de 2002.

 

  • O solo cimentado da Mota-Engil no Brasil

A Mota-Engil é outra das empresas que tem apostado fortemente no Brasil. O grupo opera em solo brasileiro desde 2009, tendo iniciado a sua atividade operacional na área das concessões de transportes, através da LINEAS. A primeira obra de construção da Mota-Engil no Brasil foi a rodoviária Marechal Rondon-Leste, no estado brasileiro de São Paulo.

No final de 2012, a Mota-Engil adquiriu uma participação maioritária no capital social da construtora brasileira Empresa Construtora Brasil (ECB), sediada em Belo Horizonte. Nessa altura, a empresa investiu um total de 19,2 milhões de euros, entre a aquisição e aumento de capital, com a espectativa de criar condições para acelerar o seu crescimento no Brasil.

Em 2014, a empresa entra também no setor da gestão de resíduos, através da participação na empresa Consita. Mais recentemente, a Mota-Engil ganhou – através da sua subsidiária no Brasil, ECB –, dois novos contratos para construção e montagem de plataformas offshore da Petrobras, no valor de 135 milhões de euros. A presença da empresa no Brasil é vista atualmente como estratégica para solidificar o seu posicionamento na América Latina, onde o seu volume de negócios ronda os 750 milhões de euros.

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