Dizia Confúcio que o silêncio é um verdadeiro amigo que nunca nos atraiçoa. Estivesse o atual presidente do Sporting atento aos ensinamentos deste filósofo chinês do século V a.C. e não teria colocado o clube na situação em que hoje se encontra. Não é uma questão de estilo. É um problema de liderança e de gestão.

Qualquer líder sabe que tem que ter a equipa consigo. Defendê-la quando as coisas correm menos bem e reconhecê-la quando saem como queremos. Dar a volta ao campo com os jogadores quando ganha e arrasá-los publicamente quando perde é a antítese da liderança. Por isso, o atual presidente do Sporting perdeu a equipa de futebol logo após a fatídica ida a Madrid, em que, por infortúnios próprios do jogo, sofreu uma derrota contra um clube com outros recursos.

Só depois de perder a equipa é que o líder do clube terá entendido que começou também a perder os sócios. E, em vez de procurar recuperar os jogadores, decidiu atacá-los ainda mais, inclusive com comunicados divulgados horas antes de partidas importantes. Emoção ou estratégia? Não sabemos. Mas sabemos que a reta final da época foi paradoxal. Presidente e jogadores de costas voltadas e com interesses teoricamente divergentes.

Por incrível que pareça, a derrota em campo reforçaria o presidente nesta tensão contra os jogadores. Parece que no meio disto tudo o Sporting ficou para segundo plano. Numa empresa normal, fora deste cosmos próprio que é o futebol, isto mais do que bastaria para substituir de imediato a equipa de gestão.

O ataque a Alcochete foi apenas o culminar trágico de tudo isto. Só a circunstância de os jogadores suspeitarem, como noticiado, do envolvimento do presidente em toda esta história demonstra que qualquer hipótese de recuperar a relação entre equipa e líder se esfumou. Desapareceu a confiança. Não sei se haverá ou não rescisões. Se fosse jogador, apesar de tudo, não rescindiria. Os fundamentos para a rescisão não são claros e o risco de lançarem as carreiras profissionais num imbróglio jurídico são elevados. Veremos em quem pensa quem os aconselha.

No entanto, com ou sem rescisões, o atual presidente do Sporting já não é o líder da equipa. Nem estes jogadores, nem outros que venham, o reconhecerão como tal. Jogarão porque são profissionais, mas não pelo líder. Aquela extra mile que os jogadores percorrem pelos líderes que os defendem e inspiram não será percorrida por nenhum jogador em nome do presidente do Sporting.

Embora seja justo reconhecer que a atual direção fez um trabalho importante na recuperação financeira e desportiva do clube, as profundas deficiências ao nível da liderança e da gestão inviabilizam qualquer possibilidade de continuidade do atual presidente à frente do clube. Os danos são já mais do que muitos. Todos sabem que provocará mais um terramoto. Só não sabem quando.

Outro dos ensinamentos de Confúcio era o de que só os sábios e os inaptos nunca mudam. Sabemos que o presidente do Sporting não é sábio. E já ninguém acredita que mude.