Em 1992, quando Florian Coulmas lançou o seu estudo sobre a atração entre línguas e economias, veio confirmar a perceção existente de que as línguas globais contribuem para a internacionalização dos mercados.

No caso do espanhol, os primeiros estudos datam do início dos anos 2000 e analisaram o coeficiente da língua em cada ramo de produção para assim determinar a percentagem do PIB. Por exemplo, o coeficiente da língua representaria 100% no setor da educação. Os estudos sobre o espanhol e o português não chegam a conclusões muito diferentes e calculam o valor da língua em cerca de 17% do PIB.

A investigação tem-se estendido a outros tópicos, como a relevância das línguas no desenvolvimento económico e social, o valor das redes, o impacto nas migrações ou nas indústrias culturais e criativas. Nas últimas duas décadas, a economia da língua – e os casos específicos do espanhol e do português – passou a ser um domínio de pesquisa que congrega investigadores de várias áreas do conhecimento.

Um dos indicadores mais interessantes diz respeito aos custos de transação suportados pelas empresas quando os mercados externos são de língua diferente, calculados entre 15% e 22%.

Mas não se trata apenas do efeito de instalar um negócio em países de outra língua: também as proximidades culturais são um valor acrescentado como bem sabem as empresas. Do mesmo modo, as indústrias culturais e criativas, em que as línguas têm um papel significativo, representam cada vez mais um setor económico relevante, não só pela sua expressão no PIB, mas sobretudo pela criação de emprego qualificado e jovem.

Atualmente, espanhol e português são línguas com 800 milhões de falantes, em mercados que se estendem por cinco continentes: África, América, Ásia, Europa, Oceânia. Trata-se de duas línguas com uma previsão de crescimento exponencial da população, o que as tornará cada vez mais globais.

A Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) junta 23 Estados-membros na América, Europa e África, sendo alguns deles também Estados-membros da União Europeia (Andorra, Espanha, Portugal) e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (Brasil, Guiné Equatorial, Portugal). Temos vindo a valorizar cada vez mais a condição bilingue da nossa organização, que têm o espanhol e o português como línguas oficiais, a somar ao valor que representam as centenas de línguas nativas.

As línguas são um capital de investimento em sentido literal e, nesse capital está incluída a criatividade que transportam. É por isso que a economia das línguas também se ocupa dos custos e benefícios das políticas linguísticas e as escolhas que podem contribuir para evitar a exclusão e a segregação.

O Fórum digital que organizamos no próximo dia 2 de julho sobre o “Potencial das línguas na recuperação das economias. Contributos do espanhol e do português”, lança o desafio de pensar o valor das duas línguas e o modo como podemos reforçar as rotas dos mercados e das línguas para benefício dos nossos povos. Esse é o principal valor da nossa ação, valor que alcança uma especial relevância neste momento da pandemia de Covid-1, em que importa apostar num futuro diferente e colocar as línguas na rota da Economia.