Este é um tema ao qual prometo voltar, até porque tem sido bem polémico, mas esta semana vale a pena recordar que só assim é porque Soares foi um fixe para a minha geração e sem dúvida uma das marcas mais relevantes que Portugal teve nos últimos tempos.

Foi graças à sua luta política e ideológica e a todos os que lutaram pelo país livre que hoje temos que os portugueses tiveram a possibilidade de conhecer as marcas que dominavam o mundo nos anos 70 e daí para a frente.

Apesar do icónico slogan de Fernando Pessoa numa tentativa de entrar no mercado na década de 20 do século passado, a Coca-Cola só chegou oficialmente a Portugal em 1977, quando já somava 91 anos de existência.

A Coca-Cola foi apenas um marco importante na abertura da economia portuguesa ao mundo depois do 25 de abril, e ainda mais com a entrada na União Europeia, a então denominada CEE. Mas é o melhor exemplo que aqui posso dar. É seguramente a marca mais simbólica do capitalismo e, por essa mesma razão, só não é vendida em dois países do mundo: Cuba e Coreia do Norte. Até parece que política e Coca-Cola têm uma ligação direta.

Imaginemos que hoje não saberíamos o que é uma Coca-Cola, um Kit-Kat, uma salsicha alemã ou um champanhe francês. Viveríamos sem conhecer todos os “i” da Apple e nada de Nike ou Adidas nos pés, tão pouco teríamos Zara para o comum dos mortais ou Prada e Louis Vuitton para dar cor à Avenida da Liberdade. E para ler nada de Time, Economist ou uma Vogue para alegrar a vista. Nada de McDonald’s ou KFC, nada do muito que temos vestido, calçado, do que comemos, usamos e fazemos.
Seriamos as mesmas pessoas? Julgo que não. Seríamos seguramente mais pobres de conhecimento e de cultura. Seríamos seguramente menos livres.

Hoje somos livres na escolha de qualquer marca, esteja ela à venda em Portugal ou no estrangeiro, e essa liberdade foi uma das várias conquistas de portugueses e portuguesas que não desistiram de um sonho e o colocaram em prática à custa de muito. A minha geração não sabe o que isso é. Talvez imagine, mas não sabe.

Mas de todas as marcas não existe nenhuma mais exclusiva que o ser humano. Somos únicos, com uma impressão digital única e inigualável e temos aquilo que todas as grandes marcas ambicionam: o lado emocional. Por alguma razão quase todos os anúncios publicitários têm pessoas, porque precisamos de uma identificação. Quem gosta de nós, gosta emocionalmente.
Quem esteve no adeus a Soares esteve porque ele foi inigualável, goste-se ou não. Errou em certos momentos, como tantos outros, sim, mas a sua luta pelas várias liberdades que hoje damos por adquiridas é algo que a minha geração só tem que agradecer.