O senhor ministro Augusto Santos Silva pediu desculpas. Mas pediu só pela metade. Ao mesmo tempo que afirmou não ter tido a intenção de “denegrir as empresas portuguesas”, não deixou de acrescentar que “devemos reconhecer os nossos problemas, não disfarçá-los”, afirmação essa com a qual eu não poderia estar mais de acordo. O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros deveria reconhecer e não disfarçar os seus próprios problemas, aliás mais do que diagnosticados e evidenciados numa mesma postura – paternalista, desinformada e debilitadora.
O paternalismo de cariz autoritário e de quem fala ex cathedra é uma característica intrínseca deste ministro, embora também transversal a quase todo o Governo. E que transpareceu de forma assaz evidente no polémico discurso em que Santos Silva afirmou que “pode esperar sentado” quem supõe que o tecido empresarial português, para ele “de fraquíssima qualidade”, é capaz “de perceber a vantagem em trazer inovação para o seu seio e a vantagem em contratar pós-graduados e doutorados”.
Sobre este aspeto, João Miguel Tavares foi certeiro quando relembrou que Santos Silva “fez parte do mais triste e fraquíssimo governo da nossa democracia e apoiou com o mais devoto entusiasmo o mais fraquíssimo primeiro-ministro da História de Portugal” cujas capacidades de gestão, acrescento eu, assentaram no desperdício de dinheiros tanto públicos como privados.
Já quanto à falta de informação do ministro sobre a realidade, ela foi vincada pelo dirigente da CIP, António Saraiva, quando salientou que “as afirmações proferidas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros só podem ser entendidas por terem sido ditas por alguém que, vivendo fechado em ambientes palacianos, há muito que não sai à rua para ver como o mundo lá fora gira e avança”.
Finalmente, no que toca à mencionada postura debilitadora, é extraordinário que o representante de um Governo responsável pela maior carga fiscal de sempre, que permanentemente asfixia as empresas com burocracias inúteis, que não hesita nunca em cobrar mas desequilibra as tesourarias do sector privado com atrasos nos pagamentos, tenha vindo arvorar-se em crítico de uma realidade – o sector privado – que nunca conheceu, ele que pertenceu a todos os governos do PS desde 1999, “o príncipe que nenhum líder do PS ousou dispensar”, como titulou há alguns anos um jornal nacional.
Santos Silva poderia ter louvado as empresas nacionais exportadoras em mercados extremamente competitivos, como a Paladin ou a Renova. A dinâmica de criação de marcas com dimensão internacional como sucede no sector do calçado, ou os casos de sucesso na área tecnológica. Mas não. Optou por apontar o dedo a uma alegada falta de know-how e formação dos empresários portugueses. Os mesmos que, eles sim, já há muito deixaram de “esperar sentados” por alguma coisa de positivo que este Governo lhes dê.
O Jornal Económico convidou os seus leitores a votar e mais de um terço elegeu António Horta Osório como o CEO/Gestor do Ano. Como este jornal já destacou, os analistas preveem para o Lloyds um lucro de 5,2 mil milhões de libras este ano e as ações dispararam cerca de 24% nos últimos 12 meses. Um resultado formidável para a instituição financeira dirigida pelo economista e banqueiro português.