Todos nós, uns mais do que outros, defendemos causas. Todos nós, uns mais vezes do que outros, já nos levantámos por algo em que acreditámos. Claro que todos somos diferentes. Enquanto uns elegem causas como propósito de vida, outros limitam-se a bater na mesa quando entendem necessário. Mas de certa forma, todos somos capazes de, à nossa maneira, dizer que não, dizer que chega. Uns fazem-no, ainda que não pareça, em silêncio. Outros gritam porque querem, porque podem.

Lutar por causas diz muito sobre o homem, sobre o seu carácter e sobre o futuro da humanidade. Mas talvez a forma como se luta diga inestimavelmente mais do que a causa pela qual lutamos. Isto porque a luta em si glorifica, enquanto a forma como se luta dignifica. E quanta nobreza se encontra na dignidade com que se luta? Tanta.

Nos dias de hoje, reconheço, não é fácil estar atento às causas pelas quais os outros se levantam, mesmo quando tantas destas causas nos são comuns. É verdade, muitas das vezes beneficiamos de algo que fazem por nós e nem nos apercebemos ou, sabendo disso, escolhemos ignorar.

Esta semana tornou-se viral um vídeo do nadador Fernando Álvarez, que participava no Mundial de Masters de Budapeste. Este nadador viu negado o minuto de silêncio que pediu à organização da prova em homenagem às vítimas do atentado de Barcelona. Contudo, iniciada a prova, ali ficou ele, imóvel, durante sessenta segundos, após os quais mergulhou. Fernando, que pediu um minuto de silêncio por respeito às vítimas dos atentados, elegeu naquele momento a sua causa e respeitou-a até ao fim, imóvel. Quanta dignidade há naquele momento, simples, parado, em silêncio? Tanta.

O vídeo que circulou não é de boa qualidade, não permite ver o seu rosto nem avaliar a sua emoção. Mas isso é indiferente, porque Fernando, que transformou um minuto em defesa das vítimas numa demonstração de respeito e solidariedade, mergulhou feliz, com a consciência de que aquela causa não era só sua.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.