De repente, a vida ficou muito mais pequena. Enclausurados pelo maldito vírus, as reuniões com colegas e as jantaradas de amigos passaram a ter lugar no Zoom, aplicação com um nome digno do que nos aconteceu, a miniaturização.

Gastamos horas a lutar com o Teams no teletrabalho. O WhatsApp tornou-se na droga da moda que fornece um leque variado de emoções. Os memes sobre papel higiénico, estantes nas casas dos comentadores televisivos e outras absurdidades que o confinamento produz fazem-nos rir. O contacto fácil e constante com os próximos que estão distantes dá-nos um high – curto, mas satisfatório. De vez em quando causa paranóia, com fake news cuja propagação parece outra pandemia.

Mas, na nossa nova vida em escala micro, até nem são precisas notícias falsas para nos alarmar. As verdadeiras são suficientemente preocupantes. Estamos viciados nos dados diários da DGS e nos comentários da Graça Freitas. Agora somos todos especialistas em dados e conseguimos falar da planagem da curva exponencial como peritos. Olhamos para Espanha e Itália com um misto de horror (por eles) e alívio (por nós, por ainda não estarmos tão mal).

Sair ou não sair? Com ou sem máscara? Luvas? Lavar a roupa à chegada? Limpar as embalagens? As medidas de prevenção e o própio estado de emergência confundem-nos no imediato. Tentamos proteger os mais idosos e educar e entreter os mais pequenos.

Presos entre quatro paredes, começamos por tentar avançar projetos que estavam há muito remetidos a uma gaveta. O livro a escrever, o album de fotos a organizar, os filmes a ver, aquela receita que nunca experimentámos…

Tentamos manter a forma para evitar sairmos desta prisão mais gordos, além de gadelhudos. É bom ter planos, mas não cumprir esses planos também causa stresse.

Mas também temos preocupações mais sérias, de longo prazo. As saídas permitidas mostram ruas vazias que representam o choque económico. Questionamos se vamos ter emprego daqui a uns meses, se as nossas empresas, pequenas, médias e algumas grandes, como a TAP, não vão colapsar.

Olhamos para as medidas que os governos e os bancos centrais anunciam e pensamos que parecem miúdos a tentar travar as ondas do mar.

Refletimos se depois disto vamos fazer alguma coisa de forma diferente, se vamos mudar o sistema global. Variamos entre o otimismo, sim vamos mesmo começar de novo, e o ceticismo habitual, reconhecendo que, provavelmente, vamos voltar aos mesmos hábitos destrutivos e irresponsáveis.

No intervalo destas preocupações sonhamos com as coisas que vamos fazer quando isto acabar. Ir à praia, ao restaurante favorito, ao futebol, ao cinema, ao parque, seja o que for, e, principalmente, estar com os amigos e familiares.

Porque, nesta vida de zoom, o que queremos mesmo é carregar no botão de fast forward.