A forma como pensamos, constituímos e gerimos equipas de inovação nas nossas empresas está a sofrer uma transformação profunda.
Durante os últimos 10 anos interessou-me, em particular, explorar a diversidade extrema enquanto modelo ótimo de uma excelente equipa de inovação: garantir multidisciplinariedade, multiculturalidade, multigeracionalidade e multipersonalidade. Este era o contexto, por exemplo, para o qual preparávamos os nossos alunos no Mestrado em Inovação e Empreendedorismo de Impacto da Nova SBE.
Porém, a aceleração das ferramentas de Inteligência Artificial (IA), em particular a Inteligência Artificial Generativa, está a transformar radicalmente a forma como as equipas de inovação são constituídas, os seus processos e as suas prioridades.
Se até agora a inovação era conduzida pela gestão da escassez – de ideias, recursos e informação –, agora passa a ser impulsionada pela gestão da abundância. A IA oferece acesso ilimitado a dados, geração automática de milhares de insights e uma capacidade de experimentação acelerada, o que exige um novo tipo de equipa, capaz de orquestrar este ecossistema de possibilidades abundantes.
Como serão as novas equipas de inovação?
Em primeiro lugar, a equipa de inovação ganha um novo membro permanente: o “robô”. Na verdade, algoritmos e ferramentas de IA Generativa passam a ser uma parte importante da equipa, na medida em que muitas atividades que eram desempenhadas até agora por humanos passam a ser ali asseguradas. E isso muda muita coisa.
Em segundo lugar, os humanos que constituem as equipas de inovação passam agora a ter de dominar a interação com os algoritmos e a IA.
Passamos a precisar de:
– Orquestradores de Inovação: Responsáveis por integrar IA nos processos de inovação e por garantir que a tecnologia está alinhada com a estratégia e os objetivos da empresa.
– Designers de Problemas: Em vez de apenas gerar ideias, estes profissionais irão definir os desafios certos para a IA resolver, garantindo que os esforços de inovação estão direcionados para oportunidades de alto impacto.
– Especialistas em IA Aplicada: Responsáveis por desenvolver e personalizar modelos de IA para gerar insights, simular cenários, definir utilizadores e agentes sintéticos e acelerar a experimentação.
– Humanólogos: Profissionais focados na componente humana da inovação, garantindo que a tecnologia é complementada pela empatia, consciência, ética e intuição humanas.
E como distribuímos tarefas?
O que o “robô” fará melhor:
– Análise e processamento de grandes volumes de dados para identificação de padrões e tendências;
– Geração automatizada de ideias e exploração de hipóteses alternativas;
– Simulação de cenários e previsão de impacto de decisões de inovação;
– Testagem rápida de hipóteses e experimentação com utilizadores sintéticos, em ambientes virtuais;
– Criação de protótipos digitais e recomendações otimizadas para processos de design e desenvolvimento;
O que continuará a ser humano:
– Formulação de problemas complexos e definição da direção estratégica da inovação;
– Interpretação crítica dos insights gerados pela IA, contextualizando-os com a realidade do mercado e da empresa;
– Tomada de decisão em situações ambíguas ou que envolvem questões éticas e de impacto social;
– Criação de narrativas que traduzam a inovação em propostas de valor claras e envolventes;
– Construção de relações humanas, liderança e colaboração dentro das equipas e com parceiros externos.
Da escassez para a abundância: um novo paradigma de inovação
Como atrás se referiu, nas equipas de inovação trabalhávamos até agora num contexto de escassez: de informação, de tempo, de recursos e de talento; mas também de ideias, de hipóteses, de utilizadores, de dados. Agora, com a IA, o desafio deixa de estar na capacidade de geração de ideias e hipóteses a partir dos parcos recursos, mas sim na capacidade de filtrar, priorizar e tomar melhores decisões num contexto de abundância de possibilidades.
A inovação torna-se um processo de gestão dessa abundância, onde o papel das equipas humanas é definir a direção certa e orquestrar os recursos disponíveis de forma inteligente.
As equipas de inovação que dominarem esta nova realidade não serão apenas mais produtivas; serão as verdadeiras arquitetas do futuro, utilizando a IA não como um substituto, mas como um acelerador da sua criatividade, do seu pensamento estratégico e da sua capacidade de transformar ideias em impacto real.
A inteligência artificial não é o destino da inovação, mas o seu catalisador; a diferença entre liderar e ficar para trás dependerá de como a usamos.