Os resultados eleitorais em Itália indiciavam muita dificuldade em conseguir criar um governo com uma maioria parlamentar estável. Um excesso de expressão a partidos extremistas e populistas bem ao estilo das progressões de partidos fora do mainstream europeu e que fazem da luta anti-austeridade, o seu propósito e no discurso antieuropeu a sua alavanca.

Importa termos consciência de que há um número crescente de políticos na Europa que põem em causa a construção europeia e que culpam o euro da incapacidade dos seus líderes. Com facilidade esquecemos o exemplo grego que, de um discurso radical absurdo e destrutivo, deslizou para o centro em poucos anos. O discurso era apenas para consumo interno, populista e primário.

A aliança que se propôs governar em Itália, ao fim de alguns meses de indefinição e de programas incompatíveis, tem contudo um máximo denominador comum: contra a Europa. A solução de governo Movimento 5 Estrelas/Liga correspondia a mais um exemplo de populismo que apela aos sentimentos mais básicos dos eleitores para obter sucesso imediato. A ter-se confirmado seria a montagem de uma nova geringonça real, efetiva e perigosa.

Verificamos estas tendências populistas com o Brexit, encontramos esses resultados com o crescimento da extrema-direita na Áustria, na Alemanha, na Polónia ou na Hungria, muito em consequência dos movimentos anti-refugiados no leste, e sentimos o seu peso e dimensão com as consequências de políticas de integração social erradas em França, na Bélgica ou que ameaçam agora a Holanda.

O exemplo italiano, ainda sem termos a noção de toda a sua amplitude, merece uma reflexão sobre os trilhos da Europa. Para mais a cerca de um ano das próximas eleições europeias, onde corremos um sério risco de ter uma fortíssima representação antieuropeia no Parlamento Europeu em 2019. Nesse dia, será dada uma machadada profunda no ideário europeu. Há que pensar nisso e agir no sentido de salvaguardar o projeto europeu.

Estamos no princípio do surgimento de novas geringonças. O perigo destas é que movimentos e partidos se vão juntar em governos, com programas contraditórios, com o único objetivo de chegar ao poder. Sem saber o que querem construir, mas sabendo o que podem destruir. A geringonça à portuguesa pelo menos não alterou a nossa ligação à Europa. Porventura porque os parceiros desta geringonça não chegaram ao governo e apenas estavam dispostos a condicionar o país.

Observemos o bom senso do presidente italiano, que assumiu corajosamente a salvação imediata do euro. E, provavelmente, de Itália. Mas estejamos atentos ao surgimento das novas geringonças que vão pôr a Europa e o “euro” em grande risco.