Há mais de uma década a globalização anunciava-se com estrondo e inevitabilidade. Emergia uma nova era de trocas comerciais e de mobilidade, o alargamento do acesso ao conhecimento e às comunicações globais.

A Europa marcava o ritmo, ao compasso das liberdades de circulação de pessoas, bens e capitais. Lentamente se venciam as barreiras entre nações. Surgiam novos acordos comerciais à dimensão global que prometia novos produtos, preços acessíveis e consumo imediato.

A par deste desenvolvimento consolidava-se a “web”. Instrumento de contacto instantâneo, pessoal e profissional, plataforma de negócios, tecnologia e ciência, respostas imediatas a toda a latitude, sem fusos ou horas.

Esta imagem alimentou os idealistas que acreditaram no fim das fronteiras e numa nova definição de liberdade. Tão repentinamente quanto surgiu, as dificuldades emergiram. Afinal a abertura não era à escala global e as barreiras começaram a regressar na mobilidade, no comércio e nas transações financeiras.

O propósito da globalização começou a merecer reveses. Nalguns pontos do globo começaram a estabelecer-se restrições à circulação em nome do combate ao crime, nomeadamente, ao tráfico e branqueamento de capitais, ou à limitação do acesso à informação, por receio de que tal pusesse em causa o seu regime político, na senda do que levou à “primavera árabe”.

Países como a China, Rússia ou Coreia do Norte nunca abriram o seu espaço ao uso livre da Internet. E as fronteiras físicas, terrestres, marítimas ou aéreas ficaram sempre sujeitas a um controlo estrito de proteção interna. Para trás ficavam as comunicações livres, o crescimento do comércio, a possibilidade de deslocação livre das pessoas.

Mais recentemente verifica-se o reforço do uso indevido e inqualificável das novas tecnologias de informação. Ataques cibernéticos criminosos dirigidos a empresas e a entidades governamentais visam obter compensações financeiras por ataques a sistemas informáticos. E nem a divulgação de notícias esclarecedoras consegue sensibilizar todos para os perigos que põem em causa a soberania nacional. Mas não só.

A disseminação de notícias falsas tem o propósito de pôr em causa a democracia pela subversão de resultados eleitorais e pela instabilidade política e social. E por muito que alguns queiram negar a sua existência por ser uma cabala a uma dimensão gigante, a evidência fala por si.

A globalização manietada por esta nova tendência tem sofrido um novo ataque. Qualquer crise tem servido para que surjam novos movimentos a propor a reposição das barreiras a todos os níveis, fazendo-nos crer que novas fronteiras podem ser edificadas, sendo que o espírito cada um por si vale mais que todos por um.

É um regresso aos egoísmos nacionais que contraria a solidariedade internacional e além-fronteiras. É um retrocesso ao sentimento de liberdade que proporciona novos espaços, novas oportunidades e novas realizações. Mas, por mais barreiras ou limites que se tentem impor, o mundo cresceu a ponto de evitar o regresso a um mundo velho sem informação, cinzento ou obscuro, tacanho e de restrições. A informação continua a ser o alfa e ómega do nosso futuro. Por mais nacionalismos que surjam, o tempo é de abertura e conhecimento. Sem fronteiras.