O equilíbrio das contas públicas foi feito à custa dos impostos pagos pelos contribuintes, que aumentaram substancialmente e de forma permanente, por via da maior inflação das últimas décadas. Enquanto a deflação não é interessante para os governos, porque pressupõe uma redução de preços com consequências ao nível da redução da receita fiscal.

A única forma de aumentar o poder de compra das famílias é que o mesmo dinheiro compre mais bens e serviços. Pode ser atingido de duas formas, ou os salários estão sempre a subir e a acompanhar a inflação, ou reduzem-se os preços e o mesmo dinheiro passa a valer mais.

O esforço feito permite que o rácio da dívida pública sobre o PIB diminua e as agências de rating internacionais emitam perspectivas positivas para Portugal, com a consequente redução dos juros pagos por toda a economia. Ora, colocar este equilíbrio das contas públicas em jogo, num ambiente de taxas de juro elevadas e num cenário internacional complicado com riscos geopolíticos acrescidos, é desperdiçar o esforço feito.

Numa época pré-eleitoral, começamos a ouvir promessas preocupantes de investimento e aumento de rendimento que não são compatíveis com a sustentabilidade das finanças públicas, já de si afectada pela demografia e uma população cada vez mais envelhecida e com forte impacto na Segurança Social.

Neste momento, as previsões apontam para uma pensão inferior a 50% do último salário a partir de 2050, com contribuições anuais para o Orçamento anual para o Fundo de Estabilização da Segurança Social. No entanto, com o aumento da carga fiscal nos últimos anos, empresas e colaboradores têm optado por pagar/receber outros benefícios, como cheque-creche, deslocações, automóvel, que não estando sujeitos a segurança social também não contam para cálculo do efeito da reforma, pelo que o efeito de redução das pensões será bastante pior do que as estimativas oficiais.

Os projectos megalómanos de um aeroporto com custos de até sete mil milhões de euros, ou o hidrogénio verde, estimado em 2020 em outros sete mil milhões, são verdadeiras hipotecas que irão onerar as contas públicas, apesar de nos ser transmitido que não é necessário dinheiro público.

Se fosse verdade, isso traria consigo um custo de financiamento, pois os privados não financiam projectos de graça. E se houvesse dinheiro em Portugal, não teríamos deixado que Cimpor, PT, EDP, BCP ou outras grandes empresas fossem controladas por estrangeiros.

Não há capital em Portugal a não ser que existam elevadas rendas, garantidas com elevados custos para os contribuintes. É altura de pensar global, mas sem hipotecar o futuro com obras faraónicas.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.