Divulgado a meio da campanha das eleições europeias, terá escapado à atenção de parte da opinião pública a mais recente edição do Boletim Económico do Banco de Portugal, ainda assim apresentada com toda a pompa pelo senhor governador.

Tenho o maior respeito pelos técnicos e quadros do Banco de Portugal (BdP). Sujeitos a critérios apertados de seleção e treinados num ambiente intelectualmente estimulante, estes são sinónimo de trabalhos com imenso rigor técnico.

O que diz o seu último Boletim?

Prevê que a economia portuguesa cresça entre 2% e 2,3% nos anos de 2024 a 2026, acima da média da zona euro (sem os países de Leste, claro), e antecipa que o emprego aumente (conquanto à qualidade do mesmo não se preveja uma alteração estrutural), ao mesmo tempo que a inflação se mantém numa trajetória descendente de 2,5% este ano, 2,1% para 2025 e 2% para 2026.

Estas previsões, claro está, são importantes para dar as balizas mínimas para a contratação coletiva nos mais diversos sectores. Convém lembrar que estas previsões são feitas com base na melhor informação disponível ao longo dos meses da primavera, até ao final de maio.

Naturalmente, esperamos todos que as medidas legislativas e executivas aprovadas venham a ter impacto positivo sobre o mercado, nomeadamente do lado da oferta, por exemplo proporcionando mais casas no mercado para arrendamento e aquisição; do trabalho, com maior disciplina na imigração, diminuindo a pressão, no sentido descendente, sobre os salários médios; mas também do lado do consumo privado, repondo rendimentos e carreiras, bem como aliviando a carga fiscal sobre o trabalho.

Isto dito, a economia é uma ciência do comportamento humano que age em função dos estímulos e da reação dos cidadãos e agentes económicos a estes estímulos. Por isso, há um ano previa-se uma descida mais rápida dos juros, e ela está a ser mais lenta, bem como uma manutenção em níveis elevados dos preços das matérias-primas energéticas, e elas desceram de preço. Ou seja, previsões são isso mesmo. Não são certezas.

Claro que em nada ajudam as declarações do senhor governador. Que dada a forma muito sui generis como transitou do governo para o BdP, fica sempre a dúvida legítima sobre qual o papel que desempenha nas conferências de imprensa: se o de técnico-mor, se o de agente político com ambições futuras.

Por tudo isto, vai sendo tempo de os governadores serem oriundos da carreira técnica e terem de ser sujeitos a audições parlamentares públicas. Só assim se garante a sua independência. Tal como está, é deixar a dúvida, algo que os excelentes quadros e técnicos do Banco de Portugal não merecem.