A pandemia desestabilizou todo o nosso quotidiano, afetando severamente sistemas educativos em todo o mundo, mas para as raparigas, os desafios são muito maiores. No auge dos encerramentos escolares, 1,6 mil milhões de crianças e jovens viram-se privados de acesso à educação em todo o mundo; e as raparigas foram desproporcionalmente afetadas. A pandemia agrava os muitos obstáculos que impedem raparigas de obter uma educação de qualidade: pobreza, violência baseada no género, mutilação genital feminina, casamento infantil e a falta de acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva.

Antes da pandemia, as raparigas já enfrentavam uma crise na área da educação. Existe agora um risco real de se perder uma geração. Cerca de 16 milhões de crianças desfavorecidas podem não voltar à escola, estando raparigas em idade de ensino secundário em maior risco de ficarem em casa ou de se casarem mais cedo porque as suas famílias caíram na pobreza. Esta é uma crise global. Temos de agir como uma comunidade global para a enfrentar.

É para isso que o Reino Unido, o Quénia e a GPE – Global Partnership for Education (Parceria Global para a Educação) coorganizaram a Cimeira Global da Educação, nos dias 28 e 29 de julho em Londres. O objetivo foi colocar a Parceria no caminho para angariar cinco mil milhões de dólares nos próximos cinco anos, para transformar a educação nos países mais vulneráveis do mundo. Isto dará a mais 175 milhões de crianças a oportunidade de aprender. Não é só a vida de dezenas de milhões de indivíduos que vai melhorar. São também milhões de comunidades transformadas para melhor.

Investir na educação das raparigas pode mudar as coisas para todos. Aumenta rendimentos e desenvolve economias. Com apenas mais um ano de escola, o rendimento de uma mulher pode aumentar em um quinto. O PIB mundial poderia crescer 28 mil milhões de dólares se as mulheres tivessem o mesmo papel que os homens no mercado de trabalho. Investir na educação das raparigas também cria sociedades mais saudáveis e seguras.

Uma criança cuja mãe saiba ler tem mais 50% de probabilidades de chegar aos cinco anos de idade, e o dobro da probabilidade de frequentar ela própria a escola – e 50% mais probabilidades de ser imunizada. Se todas as raparigas frequentassem o ensino secundário, a mortalidade infantil poderia ser reduzida para metade, salvando três milhões de vidas por ano.

O financiamento que for angariado na Cimeira Global da Educação será canalizado para a GPE, a maior parceria e fundo dedicados à transformação da educação em países de baixos rendimentos. Isto traduz-se num apoio prático à educação em 90 países e territórios. O Reino Unido dedicou 430 milhões de libras à assistência no âmbito da GPE para ajudar 1,1 mil milhões de crianças nestes países nos próximos cinco anos.

O governo português já dá um importante contributo para esta missão fundamental. O Instituto Camões lidera um vasto leque de programas de cooperação para reforçar a educação em vários países de língua portuguesa em África e noutras partes do mundo, garantindo que as crianças têm acesso a uma educação de qualidade e que os próprios professores são capazes de reforçar o seu desenvolvimento profissional. O British Council tem vindo a executar há vários anos projetos na Índia, Bangladesh e Nepal, proporcionando a 15 mil raparigas marginalizadas a aprendizagem da língua inglesa e competências na área digital.

Mas isto é apenas um começo. Com a pandemia corremos o risco de desfazer grande parte dos enormes progressos alcançados nos últimos anos. Chegou a altura de a comunidade global avançar e financiar a educação. Ao darmos a todas as raparigas a oportunidade de aceder a 12 anos de educação de qualidade, melhoraremos consideravelmente as nossas hipóteses de tirar pessoas da pobreza, fazer economias crescer, salvar vidas e reconstruir melhor depois da pandemia. Haverá melhor maneira de mudar o mundo?