O que têm em comum a condenação dos incêndios de Vieira de Leiria e a reprovação das agressões filmadas à porta da discoteca K Urban Beach, em Lisboa? Pedindo ao leitor que me perdoe a chocante mas necessária comparação, ambas foram reacções generalizadas, manifestadas através de redes sociais, em especial do Facebook, e que provocaram decisões políticas. O padrão é simples de constatar: existe um facto que provoca uma determinada reacção que, por si, procura produzir um efeito específico. Mais incerto parece ser até onde nos pode levar este padrão e que resultados poderá alcançar.

Os exemplos citados, que se presumem ser conhecidos por todos ou, pelo menos, quase todos, são ilustrativos do padrão que se identificou. Ambos os casos deram origem a uma espécie de manifestação em massa no Facebook. Uma espécie de declaração política da parte de milhares de pessoas que, num caso, deu origem à demissão da Ministra da Administração Interna e do Presidente da Autoridade Nacional da Protecção Civil e, no outro, determinou o encerramento de uma discoteca por um período que pode ir até seis meses.

Estas consequências são, se repararmos bem, das consequências mais graves que as situações concretas podiam gerar. Foram, aliás, consequências rápidas – mais num caso do que no outro, é certo –, face ao tempo normal de actuação do poder político. Devemos perguntar, porquê? E a resposta parece intuitiva: porque uma imensidão de vozes gritou e exigiu uma reposta concreta e, na verdade, uma resposta urgente. O poder político escutou e assentiu. Parece não ter havido – apesar de muita resistência num dos casos – outra solução.

Chegados aqui, com a consciência que muitos são os exemplos onde o mesmo padrão pode ser detectado, constatamos o inevitável: em certos casos, nomeadamente de indignação colectiva, as redes sociais permitem uma manifestação intensa e generalizada que visa obter uma determinada actuação do poder político que este, pela sua adesão aparente, em regra, se sente obrigado a adoptar.

Esta tendência não será nova. Porém, em Portugal, talvez seja, pelo menos, recente. Eventualmente, será tributária de dois acontecimentos notórios: o primeiro, o facto de muitos cidadãos fazerem dos seus perfis em redes sociais um espaço de opinião política; o segundo, o facto do poder político encarar as redes sociais como uma espécie de instrumento de auscultação da vontade geral.

Estando ou não certo quanto à fonte, uma coisa parece indiscutível: o poder político é, mais do que nunca, influenciável pelas manifestações públicas nas redes sociais, e essa influência veio para ficar. As redes sociais passaram a ser uma espécie de contrapoder, mais robusto que o jornalismo, talvez mesmo mais independente, mas, com alguma probabilidade, menos esclarecido. É por isso que esta tendência será mais ou menos positiva quanto mais ou menos esclarecidas estiverem as pessoas que a potenciam.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.