De uma forma geral, os jovens que transitam do ensino Secundário para o ensino Superior não estão preparados para os intensos desafios que esta nova fase da vida lhes reserva. E esta não é uma realidade dos nossos tempos, é antes uma herança indivisa à qual não nos é possível repudiar e onde todos nós, alunos e professores somos beneficiários.
Em Portugal, o paradigma do ensino superior mudou a uma velocidade alucinante. A matemática não engana: a título de exemplo, no ano letivo 1995/1996 estavam inscritos cerca de 81 mil alunos no ensino superior, “contra” os quase meio milhão que ingressaram no ano letivo de 2024/2025. É fazer as contas, em três décadas a frequência universitária tornou-se o mainstream dos nossos jovens (e menos jovens).
Em fevereiro, a Direção-Geral do Ensino Superior, DGES, deu nota que no próximo ano letivo, ou seja 2025/26, as universidades e os institutos politécnicos vão oferecer mais vagas em licenciaturas e em mestrados integrados. Em termos simplistas, grande parte destas vagas são sobretudo para cursos como Medicina ou de Educação.
Os alunos do Secundário vão conhecer mais cedo as vagas para cada licenciatura o que lhes dará uma maior liberdade de escolha nos exames nacionais, podem escolher com mais tempo. Mas nenhuma destas medidas os prepara para a diferença abismal que existe entre o Ensino Secundário e a Universidade.
Nos últimos anos, ou décadas, assistimos a várias alterações em matéria de Ensino. Cada Governo que chega quer fazer algo distinto, mas acabamos sempre no mesmo ponto de partida: ora existem provas de aferição, ora são impostos exames nacionais no 9º ano, ora recuamos ao exame nacional de Português ser obrigatório no 12º ano, que em tempos era obrigatório e este ano voltou a ser. O nosso sistema de ensino anda às voltas e não é melhor em termos qualitativos do que foi nos anos 90 do século XX quando menos de 100 mil alunos se candidatavam ao ensino superior, certamente, mais bem preparados.
Sou apologista de uma “revolução” no ensino Secundário no sentido em que é imperativo incluir no curriculum mais palestras, visitas de estudo obrigatórias e uma maior troca de informação; na prática um sistema onde os alunos pudessem ter uma ideia mais aproximada do que é o ensino Superior, enquanto defendo que a escolha de uma licenciatura não deveria estar condicionada a uma área de estudos pela qual se envereda aos 14,15 anos (ou seja, no início do 10º ano).
Por outro lado, e na área das Ciências, deixo a título de exemplo que a disciplina de Físico-Química faz sentido em ambiente de laboratório e nas escolas secundárias não se investe em laboratórios, privilegia-se a teoria em detrimento da prática.
Existem disciplinas que carecem de apoios específicos, entre as quais a Matemática e o Português. Quantos alunos “fogem” da Matemática e, não raras vezes, das suas verdadeiras intenções? O próprio exame nacional de Matemática A (a par com o exame nacional de Português) costuma gerar cuidadosas análises sobre o que realmente aprendem os jovens, não obstante uma parte substancial dos alunos recorrer a explicações desta disciplina. Os nossos alunos têm capacidades imensas, no entanto, não são exploradas porque existe falta de investimento a todos os níveis.
Gosto do sistema de ensino em Singapura, a abordagem é especialmente feliz porque num país com metade dos habitantes que em Portugal (menos de seis milhões), enfatiza-se a preparação do jovem para a transição suave entre o Secundário e o Superior através da oferta de oportunidades de aprendizagem mais práticas, bem como a promoção de um maior envolvimento com o mundo universitário durante todo o ensino secundário.
Estamos em 2025 e embora as estatísticas indiquem que, em Portugal, temos cada vez mais alunos a prosseguirem os seus estudos universitários, volvidas tantas décadas está na hora de revolucionar o Secundário.
Parafraseando Karl Max, sem qualquer comparação em específico, “As revoluções são a locomotiva da História”. E está na altura de mudar a História porque, se por um lado temos números reais, por outro, não existem dados concretos sobre a real adaptação dos nossos estudantes, nem tão pouco se viveram motivados nos anos em que viveram (ou sobreviveram) ao ambiente académico nas suas distintas vertentes.